Festa da Dedicação da Basílica de Latrão
A liturgia católica prevê que o Bispo faça a solene dedicação das igrejas. Por esse rito, um determinado templo, com tudo o que contém – altar, pia batismal, confessionário, via-sacra, imagens, órgão –, é dedicado inteiramente a Deus. Tais coisas são consagradas ao culto divino e separadas do uso profano. A dedicação de uma igreja é um evento tão importante que sua data é comemorada anualmente com o grau de solenidade.
Em geral, a dedicação de uma certa igreja é festejada tão somente no respectivo templo. Ao longo do ano litúrgico, porém, toda a Igreja celebra a dedicação das quatro Basílicas chamadas maiores, que se encontram em Roma: São Pedro, São Paulo (ambas em 18 de novembro), Santa Maria Maior (5 de agosto) e São João de Latrão (9 de novembro). Entre elas, a última recebe especial solenidade. Sendo a igreja catedral de Roma – cujo bispo é o Papa –, a Arquibasílica do Santíssimo Salvador e dos Santos João Batista e Evangelista é considerada a “mãe e cabeça de todas as igrejas da Urbe e do mundo”. Por isso, neste domingo, festejaremos sua dedicação.
A construção de templos dedicados ao culto divino é uma necessidade antropológica, pois nossa relação com as coisas espirituais passa necessariamente pelos sentidos. O templo representa misticamente a porta do Céu, onde o Senhor habita. Adentrando no seu interior, afastamo-nos da agitação, do rumor e da confusão da vida ordinária. As suas dimensões, arquitetura e decoração geralmente não são ordinárias: remetem-nos à harmonia, à beleza e ao mistério de Deus. Dentro do templo, mantemos o espírito de oração: o silêncio, a postura, o modo de caminhar… Tudo se eleva em direção à divina Presença.
A igreja física remete também à Igreja de Cristo, isto é, ao Corpo Místico ou Casa de Oração cujos “membros” ou “tijolos” são cada um dos batizados: “Como pedras vivas, edificais uma morada espiritual destinada a um sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por meio de Jesus Cristo” (1Pd 2,5). Ao ouvir o chamado do Senhor “Vai e reconstrói a minha Igreja em ruínas”, São Francisco prontamente restaurou a pequena igreja da Porciúncula, que era, na verdade, um símbolo de toda a Igreja Católica que seria renovada pela vida do poverello de Assis.
Enfim, o templo de pedras representa espiritualmente cada fiel. Pelo Batismo, tornamo-nos habitação da Trindade: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós? O santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário” (1Cor 3,16-17). Nosso coração é um “altar” no qual se oferecem atos de fé, esperança e caridade como sacrifícios de louvor ao Pai. Nossos corpos são “templos” ungidos por Cristo que não devem ser profanados: “Oferecei os vossos corpos como um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o vosso culto espiritual” (Rm 12,1). Ao celebrar a Basílica do Latrão, celebremos nossa vocação santa de membros de Cristo e da Igreja!






