Celebrar é reviver: o tempo de Advento-Natal-Epifania

Arte: Sergio Ricciuto Conte

Este é o tempo para celebrar a manifestação do Senhor (grego: epipháneia). São três tempos que no dinamismo da manifestação salvífica representam um momento oportuno, supremo (grego: kayrós) no tempo anual ou cronológico (grego: kronos): a preparação desde a época profética da vinda de Cristo (que revivemos por meio das leituras do profeta Isaías); o tempo da Sua encarnação, que é o tempo presente (pois Ele continua vivo e presente por meio do Seu Espírito) na Igreja, no mundo e no coração de cada pessoa que se abre a Ele; e o tempo da Parusia, da espera da Sua vinda gloriosa e da Sua manifestação plena.

A liturgia nos faz reviver esses três tempos no “hoje” como sinal e experiência de eternidade, de um tempo que está acima do tempo, mas dentro do nosso tempo. O sabor que provamos ao reviver este “tempo de Deus”, o tempo sem tempo em que vive Jesus Cristo, dá à nossa vida um gosto inexprimível, que é suave odor de eternidade.

Celebrar é já entrar, antecipadamente, na dimensão do eterno. Para isso, é preciso que “entremos”, de fato, na liturgia deste tempo para mergulhar nos mistérios da encarnação do Deus-Emanuel (que quis vir viver conosco). O degustar a beleza e a profundidade da liturgia deste tempo nos fará reviver e reexperimentar em nossa vida uma alegria sóbria, certa e segura que nos ensina a olhar toda a realidade com um olhar atento, vigilante e que nos enche do desejo de começar de novo.

Quem fizer isso verá que a troca de presentes será vivida mais sobriamente e de maneira mais bonita (em vez de gastar dinheiro se entregando à sociedade de consumo, que tal preparar, fazer algo simples com as próprias mãos?). Verá que o encontro com familiares e amigos terá um sabor totalmente diferente; e ajudará que o Natal não seja um tempo para bebedeiras, para brigas em família, ou para se endividar. Nada disso ocorre para quem entra de corpo inteiro na liturgia do Advento-Natal-Epifania.

Como é possível? Basta que haja alguém que seja como a luz das velas de Natal. Esta luz tem uma força de atração, quando presente, que ilumina irresistivelmente todo o ambiente. Para se tornar luz, é preciso entrar no mundo onde está a luz. A porta para entrar é a liturgia. E as chaves são a Liturgia das Horas, a meditação diária das leituras e orações da missa, e a participação nesta tanto quanto possível.

Dedicar um tempo para ouvir os cantos de Advento e Natal é outro modo eficaz para entrar nesse mundo eterno que quis vir ao nosso mundo. Uma antiga oração do Papa Leão Magno (453 d.C.) diz: “Não celebremos o nascimento do Senhor por meio do qual o Verbo se fez carne como um acontecimento do passado, mas o reconheçamos como algo presente”. Um texto litúrgico do século V (Liber ad gregoriam) nos lembra que “Cristo nos fez entrar no céu no mesmo dia em que desceu à terra”. E a oração da coleta da missa de Natal diz: “Deus, tu criaste a natureza humana com uma dignidade admirável e a refez de modo ainda mais admirável. Concede-nos, te pedimos, participar da divindade do teu Filho, Jesus Cristo, que se dignou a se unir à nossa humanidade”.

As opiniões expressas na seção “Opinião” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorais do jornal O SÃO PAULO.

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