Como lidar com ‘injustiças’

Atualmente é muito comum ouvirmos as mães reclamando que seus filhos sofreram alguma injustiça.

A professora foi injusta pois não percebeu o quanto a criança se empenhou e avaliou mal seu trabalho; não considerou que o esquecimento de uma lição era por algum motivo que os pais consideravam relevante; o amigo não chamou para fazer parte do time ou para sua festa de aniversário; um colega não emprestou o brinquedo, embora sempre pegue emprestado… enfim, uma infinidade de situações que mexem com os corações das crianças e das mamães (ouso dizer que mais com os das mamães do que da própria criança).

Acho importante considerarmos alguns pontos para que possamos enfrentar as pequenas e grandes injustiças com as quais eventualmente nos deparamos, com sabedoria e fortaleza. Na verdade, essas situações são muito interessantes para conquistarmos algumas virtudes, entre elas a fortaleza, a paciência e a prudência.

Em primeiro lugar, alerto especialmente as mamães, que costumam se conectar rapidamente com os sentimentos de seus filhos: antes de emitir qualquer juízo ou parecer, informem-se muito bem sobre o assunto. Não esqueçam: ouvir o relato de uma das partes somente, nos dá uma visão bastante limitada. A chance de avaliarmos mal e acabarmos sendo nós mesmos os injustos é grande. Portanto:

Verifique se se trata de algo realmente importante e que mereça intervenção direta ou se basta orientar o seu filho sobre o assunto. Explico-me – em algumas situações, a injustiça pode trazer prejuízos mais sérios: uma reprovação, uma difamação, uma perda importante… então, procure detalhes, converse com os envolvidos e direcione uma solução. Se for algo que suscite somente um sentimento de tristeza momentâneo na criança, talvez seja uma excelente oportunidade de ajudá-la a identificar o sentimento, o que o motivou, a avaliar sua atitude e a do outro e a aprender a se posicionar – ou se defender de modo adequado, ou passar por cima e seguir adiante. Afinal, todos podemos cometer pequenas injustiças sem querer, não é mesmo? Mais importante é nos fortalecermos para enfrentá-las com sabedoria e sem vitimismos.

Lembre-se: professores, diretores, tutores tem uma visão mais ampla das situações que ocorrem em seus campos de trabalho. Eles precisam pensar em uma gama muito maior de variáveis; portanto, o que pode parecer injusto a uma criança ou a você, mamãe, pode ter uma explicação bem razoável se escutarmos com atenção e abertura a outra parte. Nunca parta do princípio de que estão agindo com má intenção: muitas vezes as injustiças acontecem por descuido ou “ignorância” em algum grau. Uma boa conversa tanto pode ajudar você a compreender melhor a atitude do outro, como pode contribuir para que o outro perceba seu ponto de vista e o leve em consideração em próximas decisões.

Não se confunda com a postura moderna de “defender” seu filho. Entenda: defendê-lo significa evitar o mal que pode trazer consequências negativas a ele. A superproteção, a fúria em não permitir que se sinta triste em alguns momentos, que perceba a vida e seus desconfortos e aprenda com eles, não é defender, ao contrário, é torná-lo vítima da vida, torná-lo incapaz. Incapaz de viver com autonomia, de aprender a se defender, a se posicionar e a suportar aquilo que não pode ser mudado. E a vida tem tanto disso, não tem?

Sentimentos são muito importantes, dão cor à vida. Eles são os primeiros que emergem diante das mais diferentes experiências que a vida nos oferece. No entanto, os sentimentos precisam ser submetidos a alguma racionalidade, precisam ser orientados com prudência. A criança não será capaz disso, mas nós, adultos, precisamos lutar para sermos esse farol que conduzirá as crianças nessa seara. Sentimentos desgovernados são péssimos conselheiros, nos levam a más decisões. Eduquem seus filhos: ensine-os que seus sentimentos podem ser vividos e compreendidos. Ensinem que sentimentos passam e, com certa distância, podemos “enxergar” melhor como agir.

Mamães, cuidado para não tornar seus filhos vítimas do mundo. Eles não serão felizes assim.

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