Como lidar com o tempo de férias escolares – reflexões sobre o tédio

Férias escolares, alegria para uns tantos e desespero para outros.

A cada período de férias, escuto as mais diversas expressões: – “Que delícia, vamos aproveitar!”; “Socorro, não tenho férias de trabalho, o que farei com as crianças?”; “Gente, que sufoco, não tenho paciência para brincar com eles”; “Meu Deus, como dá trabalho ocupar o tempo das crianças, me chamam para tudo”… Enfim, vamos pensar sobre o tempo no período de férias.

Tempo de férias, por definição, é o período em que as atividades escolares são interrompidas e as crianças ficam com o tempo mais livre. Férias escolares são importantes pois marcam etapas, oferecem a possibilidade de um descanso em relação ao ritmo de lições e afazeres próprios da atividade escolar, possibilitam que a criança conviva um pouco mais em seu ambiente familiar, que tenha horários mais flexíveis.

Nas férias há uma mudança de rotina – o tempo que é normalmente organizado em torno das atividades escolares, passa a se organizar de outro modo. Aqui faço um adendo importante: sim, é preciso organizar o tempo de outro modo. Férias não significa falta total de rotina, mas sim, uma rotina diferente, que possibilita mais tempo para a brincadeira livre, para o ócio, para as atividades que não “cabem” na rotina própria do tempo de aula.

Estipular um horário para acordar e dormir, um tempo maior para brincarem, possibilitar que tenham mais contato com a natureza, que tenham disponíveis materiais interessantes para criar brincadeiras (sucata, papéis, lápis, massinha, argila, tecidos, caixas). Observar, mexer, perceber, pensar, construir…. atividades que exigem introspecção, que surgem da necessidade, do ócio. Planejar e organizar o tempo com as telas, não ceder à compulsão infantil nesse campo; caso contrário, muito pouco crescerão nesse período.

Quando a criança tem uma agenda toda preenchida, com uma atividade atrás da outra, com passatempos programados e organizados para si, não há tempo e oportunidade para nada do que foi dito acima. Quando a criança se diz entediada, resistam bravamente à tendência de resolver o tédio. Ao contrário, ajude-a a perceber: o que gostaria de fazer? Como poderia se divertir? Muitas vezes um adulto por perto, presente afetivamente, oferece a segurança de que a criança precisa para crescer diante dessa experiência do tédio.

Brincar sozinha é um aprendizado necessário, importante, que organiza o mundo interior, ajuda na autopercepção. E a presença do adulto dá suporte para esse movimento infantil, desde que o adulto também “suporte” o ócio da criança.

Percebo com clareza a dificuldade dos pais em organizar uma rotina de férias para as crianças. Ou querem lotar o dia da criança de atividades, distrações e afazeres – como se a criança não pudesse ficar ociosa nunca; ou cedem a um “far niente” desordenado que deixa o ambiente completamente caótico.

Muitos pais pensam a agenda das crianças conforme suas próprias agendas: acabam lotando a criança de “compromissos”. Lembrem-se: crianças não são adultos tamanho P, elas têm um modo de funcionar diferente e uma necessidade diferente, precisam de mais tempo ocioso, precisam brincar, precisam se organizar internamente e isso se faz exatamente nas ocasiões em que brincam, imaginam, criam.

Essa experiência do ócio, do tédio, é importante em todas as idades – primeira infância, segunda infância e adolescência. Até mesmo adultos precisam de tempos ociosos para descansar, contemplar, meditar.

Portanto, o importante é o equilíbrio. A virtude da temperança, da moderação, precisa ser buscada no processo educativo dos filhos.

Equilibrar o tempo, oferecer atividades e oferecer tempo livre. Estar presente sem ser o responsável por criar as atividades e preencher todo o tempo deles. Ordenar esse tempo para que seja distribuído com sabedoria de acordo com as necessidades em cada etapa: eis aí o papel dos pais no tempo de férias.

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