A culpa nasce mesmo antes dos filhos?

SIMONE RIBEIRO CABRAL FUZARO

Mantendo contato próximo a grande número de mães, observo, cada vez mais, a culpa que carregam pelos mais diferentes motivos:

  • Trabalhar fora;
  • Não brincar com os filhos;
  • Perder a paciência;
  • Não ter amamentado exclusivamente no peito até 6 meses;
  • Ter pouco leite;
  • Não conseguir respeitar as janelas de sono e sonecas do bebê;
  • Não fazer um desmame gentil;
  • Sentir-se esgotada por dormir pouco….

Enfim, há sempre a percepção de que existe um erro no percurso, como se a criança fosse prejudicada pela mãe o tempo todo. Mais do que isso: como se a perfeição fosse possível entre nós, pobres mortais.

Quero trazer hoje uma reflexão muito objetiva e realista sobre a maternidade e peço que me acompanhem com genuíno interesse em compreender a mensagem e tirar bons frutos para sua experiência pessoal.

Em primeiro lugar, entendam: não existe perfeição aqui na terra. Perfeito somente é Deus. Nós, simples mortais, podemos oferecer uns aos outros nosso melhor, ou seja, o esforço constante por fazer o bem, amar e servir. 

Em segundo lugar, precisa haver uma hierarquia clara de valores. Já parou para pensar sobre isso? Para orquestrar tantos compromissos e responsabilidades, a ordem hierárquica é fundamental. O que vem em primeiro lugar? Em qual de suas atividades você é insubstituível, já parou para fazer essa reflexão?  

Num mundo tão materialista e hedonista, facilmente somos levados pela maré do ter, do sucesso profissional como meta principal. Mas, quando paramos para uma reflexão mais profunda e realista, percebemos que é na família que cada um é, de fato, insubstituível – o que você não fizer como mãe, ninguém o fará. 

No entanto, ter clareza dessa importância não deve aprisionar você na culpa, caso não faça parte de suas possibilidades ficar em casa e cuidar de sua família. 

Não idealize a vida, pois ela não é passível de idealização. A vida acontece, surpreende, as circunstâncias se apresentam e o melhor que você pode fazer é, dentro de suas circunstâncias, viver sua hierarquia da melhor maneira possível.

Trabalha fora? Faça-se presente de modo criativo – volte para casa sempre que possível (se for possível pegar e levar na escola, almoçar em casa, jantar, dar banho, fazer dormir), não terceirize por comodidade. Estabeleça os combinados com as crianças, crie alternativas para saber se foram cumpridos, enfim, seja a protagonista da educação deles nessas suas circunstâncias. 

Fica em casa? Esteja, de fato, na relação. Não é somente por estar em casa que a mulher está ocupada com a educação dos filhos e a gerência do lar. Vejo muitíssimas mães que, mesmo estando em casa, acabam delegando coisas importantes.

O mesmo vale para a amamentação, para as faltas de paciência, enfim – a vida não cabe em nenhuma idealização, esqueçam essa loucura. 

Fazer o melhor possível, lutar por ser uma boa mãe, mulher e esposa a partir de sua realidade pessoal, isso é o melhor que se pode fazer.

Com isso não estou fomentando uma postura comodista – sou assim e pronto. Ao contrário, estou estimulando que se conheçam, aceitem suas circunstâncias e tirem delas e de vocês o melhor – sem idealizações nem culpas. Errou? Recomece. Caiu? Levante. 

Seu filho não precisa de uma mãe perfeita, ele precisa de uma mãe comprometida em lutar por oferecer seu melhor todos os dias, uma mãe comprometida em formar bem seu caráter e prepará-lo para a vida. 

E tem mais: os filhos não são tão frágeis que qualquer erro de percurso os traumatize ou prejudique seriamente. Eles conseguem reconhecer o amor, o cuidado, o vínculo bem formado e, quando isso é vivido com retidão, os erros são parte passageira, são percalços que serão superados dentro da relação. 

Podem ter certeza: essa conduta tão culpada e insegura prejudica mais os filhos de vocês do que os próprios erros cometidos. 

Mães, coragem! As crianças precisam de vocês firmes, confiantes e dedicadas sim, mas exatamente como são: reais. Com defeitos e qualidades, com acertos e erros. Não deixem a culpa tomar conta da vida e fiquem atentas pois, se ela aparecer com força, provavelmente o que faltou foi retidão ou compromisso com a missão – corrija e siga. Educar os filhos é a maior oportunidade que você terá de crescer em virtudes, de se tornar uma pessoa ainda melhor. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro

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