A difícil tarefa de garimpar conteúdos nas redes

É moda dizer que a maternidade precisa ser mais leve, menos exigente. Que as crianças precisam escolher o que querem, “o que faz sentido” para elas. Que são pequenas e devem subir em tudo, que não há problema que comam em qualquer lugar: no carro, no sofá, no chão…. Para que tanta exigência com lições de casa quando crescem um pouco mais? A vida não deve ser levada tão a sério, enfim, assim caminha a sociedade…

É verdade que existem coisas que não têm nenhum sentido exigir, que fazem parte de uma espécie de herança que se aceita sem questionamento. Muitos pais se preocupam demais com o que os outros vão pensar, com o que dirão do comportamento de seus filhos e saem fazendo exigências realmente descabidas. Exigências incompatíveis com a idade da criança ou mesmo com os princípios da família. Por outro lado, também é verdade que muitos estão “enveredando” pelo perigoso caminho do “deixa para lá”, ou seja, quando crescer tudo passa.

Sei que os pais vivem uma enorme dificuldade, uma vez que hoje em dia há na internet uma quantidade imensa de supostos profissionais de educação que se põem a orientar sob as mais diferentes perspectivas. Aliás, pior do que isso: escritores, médicos, nutricionistas, até mesmo pais, se colocam como especialistas em educação e começam a trazer conteúdos que deixam a maioria dos pais confusos, perdidos. O correto é elogiar ou não? Deve-se dizer não à criança ou somente distraí-la quando quer algo que não deve ter? É correto deixar a criança escolher para que se torne um adulto autônomo e independente ou devo escolher por ela que ainda é pequena? Enfim, difícil decidir o que fazer com tantas informações paradoxais.

Exatamente por isso, quero convidá-los a uma reflexão muitíssimo importante e que pode ajudá-los a garimpar nessa imensa quantidade de orientações e encontrar aquelas que convêm à sua família.

Antes de sair seguindo orientações que vir na internet, identifique os princípios que quer transmitir aos seus filhos e, mais do que isso: defina como espera que seus filhos sejam quando adultos.

Espera formar pessoas maduras, determinadas, fortes, que saibam enfrentar as dificuldades da vida? Quer que saibam fazer boas escolhas, ou seja, que saibam escolher o bem, ou acha o suficiente que eles escolham o que os fará felizes a cada dia? Espera que sejam pessoas livres, criativas, autônomas ou tudo bem se se tornarem aqueles adolescentes de 28 anos que dependem em tudo dos pais? Espera prepará-los para que conquistem seu espaço profissional com competência e enfrentem os desafios que tiverem ou que encontrem empresas que se adaptem às suas necessidades? Espera que sejam pessoas que identificam aquilo que é bom, que está a serviço do bem comum e consigam lutar por isso, ou espera que sejam levadas pelas ondas ideológicas que volta e meia inundam a humanidade?

Sim, eu sei, também está difícil decidir sobre isso numa sociedade tão fluida que nos faz questionar se os esforços e virtudes valem mesmo a pena. Aliás, uma sociedade que perdeu a noção de virtude e que sofre as consequências nefastas de se tornar um aglomerado de pessoas, cada uma buscando seu próprio bem e realização. Então, abra os olhos, busque formação, tente definir com clareza ao menos alguns conceitos: verdade, bem, liberdade, autoridade, felicidade (a verdadeira e duradoura). Se não souber definir exatamente o que significa cada um desses conceitos, pode ter certeza: não conseguirá identificar as estratégias que serão úteis no processo educativo de seus filhos e as que somente irão atrapalhar.

Muitos pais estão se perdendo em estratégias, muitas vezes completamente incompatíveis com o que esperam formar de valores em seus filhos. Fogem de “embates”, não formam hábitos positivos no início da vida, adotam a ideia de que nunca devem ser “chatos” e exigentes; afinal, precisam ser amigos dos filhos, precisam educar somente com palavras positivas, enfim, quando percebem, pequenos déspotas estão em pleno reinado no centro de suas casas e, o pior: inseguros, com baixa auto-estima, desordenados. Crescem sem formar os critérios básicos para viverem com real autonomia e liberdade. Pois estas se conquistam com um processo educativo árduo; que pode, sim, ser bem-humorado, alegre, repleto de momentos deliciosos e divertidos, porém, comprometidos com as exigências necessárias para que os pequenos se formem bem, as chatices saudáveis que tornam as pessoas melhores, que mostram o amor verdadeiro. Afinal, quem ama educa, quem ama exige, quem ama quer ver o outro voar alto, e tudo isso custa.

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