Como sabemos, a criança vem ao mundo com muito a ser desenvolvido. Esse desenvolvimento será determinado em parte pela dotação genética e, por outro lado, pelos estímulos que receberá ao longo da infância, especialmente no ambiente familiar.
Um dos aspectos que dependem bastante dos estímulos que receberão é o imaginário. Toda criança tem potencial para desenvolver a capacidade simbólica e representativa, e isso vai acontecer de modo bastante intenso e radical na primeira infância, quando se dá a aquisição de linguagem. Entretanto, esse imaginário será mais bem formado ou não, de acordo com os estímulos que forem oferecidos pelo ambiente, especialmente o familiar.
A representação, a imaginação infantil, vai ser alimentada por tudo o que for oferecido como material de vivência para a criança: as músicas que ouvir, as histórias que forem contadas, as brincadeiras, as experiências e conversas. Vai ser nesse material que a criança buscará elementos ao longo da vida, para enfrentar as situações e problemas que encontrar – essa será a base de sua capacidade criativa, de sua capacidade de elaboração, de pensamento.
A fantasia, os jogos simbólicos (faz de conta), amigos imaginários e contos serão parte integrante dessa construção e vão constituir o pensamento, balizando as tomadas de decisão, as convicções e ações.
Sendo assim, é muito importante considerarmos o que estamos oferecendo aos pequenos para que formem um imaginário rico. Quando contamos histórias cujos personagens vivem dilemas, tratam de questões nas quais se coloca a dinâmica do bem e do mal, que indicam situações em que se faz necessário tomar posições e se abre a possibilidade de que a criança se identifique com essa ou aquela posição, questione uma ou outra decisão, estamos dando a ela uma riqueza de instrumentos internos para a vida. Estamos abrindo possibilidades de que se posicionem de modo mais assertivo nas situações que se apresentarem e que ajam de modo mais criativo e inteligente no cotidiano. Quando, ao contrário, reduzimos o repertório da criança a pequenas histórias sem riqueza de enredo, estamos empobrecendo a capacidade imaginativa e tornando menor a capacidade criativa, de análise, de juízo moral.
O mesmo se dá em relação ao repertório musical, ao estímulo oferecido em relação às artes plásticas, enfim, não fará parte do arsenal imaginativo da criança aquilo que não for apresentado a ela.
Isso não significa que não possamos oferecer aos pequenos histórias e músicas infantis, mas, sim, que não podemos nos restringir a isso. É preciso cuidar de modo muito especial daquilo que oferecemos até mesmo sem perceber: o estilo de música que ouvimos, as letras e movimentos que elas propõem etc. Tudo isso fará parte do imaginário da criança e, importante lembrarmos: na primeira infância, o principal meio de aprendizagem das crianças é o mimetismo: irão imitar e criar imagens a partir daquilo que observarem que os adultos fazem e valorizam.
Contar boas histórias, poesias, fábulas, contos clássicos, oferecer boas músicas, criar possibilidades de jogos simbólicos, possibilitar que contemplem obras de gênios da Arte eleva a possibilidade imaginativa dos pequenos e abre as portas para que conheçam mais sobre a diversidade humana, que se aproximem dos aprendizados morais, que tenham maior riqueza de raciocínio diante da vida.
Existe uma riqueza imensa de material de excelente qualidade, fruto de anos de trabalho de gênios da humanidade nas mais diversas áreas que podem ser oferecidas aos nossos pequenos, enriquecendo suas possibilidades e abrindo horizontes. Vamos cuidar com carinho desse aspecto tão importante e tão esquecido.
Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.