A importância de conversar com os filhos

Hoje em dia, o hábito de conversar vem sendo substituído por mensagens on-line. Pouco se fala nos restaurantes, ao redor das mesas de refeição, nas salas de estar das casas de família. A facilidade de cada um estar envolvido com conteúdos de interesse próprio nos celulares, tablets ou aparelhos de televisão criou um clima de mutismo em muitos espaços que seriam próprios ao convívio e, infelizmente, a família também cedeu a esse novo “normal”.

Acontece que, a cada etapa da vida das crianças, é muito importante que se sintam ouvidas e percebam a atenção dos pais para com suas necessidades. Criar um ambiente de diálogo, de troca e de convívio saudável é muito importante para fortalecer o vínculo entre pais e filhos, para gerar um clima de cuidado, de interesse e segurança para os pequenos.

O importante é que a conversa esteja compatível com a faixa etária e as possibilidades da criança na etapa de desenvolvimento em que se encontra. Não podemos conversar com as crianças sem perder de vista que os diálogos são formadores, educativos – estamos numa posição mais madura e capacitada para compreender a criança e ajudá-la a amadurecer, a crescer de modo integral.

Então, vamos às orientações práticas para guiar bons diálogos:

Até os 3 anos de idade, as crianças ainda têm uma linguagem muito incipiente – mesmo que falem bastante, o uso das palavras nem sempre é feito com racionalidade e entendimento de seu significado. Por outro lado, ainda têm pouca noção de realidade e fantasia, criam explicações e justificativas ilógicas e isso faz parte de seu processo de crescimento. Portanto, as conversas nessa etapa precisam ser bem curtas, concretas. O mais importante é que o adulto se faça presente fisicamente, “escute” para além das falas as necessidades dos pequenos. Ajude-os a perceberem sensações e identificarem e nomearem alguns sentimentos.

Dos 4 aos 6 anos, a criança cresce um pouco em compreensão de fala e capacidade de expressão, mas continua com raciocínio ilógico e atemporal, precisando de muita ajuda do adulto para compreender as situações e delas tirar bons proveitos.

Ouvir as crianças e ponderar com otimismo o que trazem é sempre uma estratégia que produz bons efeitos. Promover conversas usando livrinhos infantis que tratem de situações que podem ajudar a criança a se perceber, a falar sobre seus medos e fantasias. Importante saber que nem tudo o que a criança diz nessa faixa etária podemos tomar ao pé da letra, pois muita fantasia entra em cena e impacta a percepção da criança.

Dos 7 anos em diante, a capacidade de diálogo cresce progressiva mente e a criança (posteriormente adolescente) precisa ganhar espaço de diálogo. É muito importante que se crie o hábito de conversas gostosas, animadas, que promovam o sentido de pertença à família. Contar histórias de família, contar histórias sobre como os pais se conheceram, como foi o período de namoro, o casamento…. esses momentos produzem um efeito formativo importante e trazem a criança para a posição de membro e interlocutor na família. Geram oportunidades de que fale sobre seus sonhos, suas expectativas, suas preocupações e que se identifique com vivências passadas dos pais.

Ouvir, mesmo que falem coisas que não concordamos; ouvir, mesmo que sejam análises imaturas; ouvir, mesmo que sejam exposições injustas faz parte do processo. Porém, não basta ouvir e não ponderar. É necessário, com sabedoria, trazer dados para a análise da criança e do adolescente. Ajudá-los a perceber as coisas de outro ponto de vista, enfim, crescer em capacidade de análise da realidade, em possibilidade de dimensionar seus sentimentos e crescer no sentido de não se mover exclusivamente por eles (tendência natural nessa etapa).

Boas conversas criam laços fortes, saudáveis e melhoram os resultados educativos.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro

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