Adolescentes: compreendê-los para ajudá-los a crescer (I)

Normalmente, os pais temem a chegada da adolescência. Fase conhecida como difícil, em que os filhos se tornam mais combativos, menos dóceis às determinações, mais preguiçosos, enfim, uma etapa da vida dos filhos que traz vários desafios ao relacionamento familiar.

Muito embora seja realmente uma etapa de grandes mudanças, precisamos sair do jargão comum da “aborrecência” e entendermos o que está acontecendo nessa fase do desenvolvimento dos nossos filhos para podermos ajudá-los da melhor maneira possível.

A adolescência é uma etapa em que ocorrem muitas mudanças. Trata-se de uma de transição entre a infância e a vida adulta. O adolescente vive a crise de se transformar de uma criança dependente e cuidada por seus pais, em um adulto autônomo capaz de conduzir com liberdade a própria vida. Essa etapa é marcada por muitas mudanças fisiológicas e orgânicas, próprias da puberdade, que acontecem rapidamente – crescimento do corpo, maturação sexual, aumento da estatura e outras que nem sempre se manifestam com a mesma rapidez, como a estabilidade dos sentimentos. Ou seja, o corpo se transforma rapidamente e o adolescente precisa a ele se adaptar, sem, no entanto, ter uma maturidade afetiva para isso. As mudanças físicas dão início a um processo importante de formação da identidade pessoal, mas, para que isso aconteça, o adolescente encontra vários desafios: o desaparecimento de alguns vínculos que foram estabelecidos na infância, a impaciência por mais autonomia social, a insegurança de viver sem tanta proteção da família de origem em algumas situações, o medo diante das expectativas sociais, enfim, são muitas as mudanças a serem elaboradas nesse processo de construção de uma identidade pessoal que se inaugura na adolescência. O adolescente está em processo de amadurecimento para assumir as responsabilidades próprias da vida adulta – e essa não é uma tarefa fácil.

No início da adolescência, mais ou menos aos 13 anos, o adolescente se encontra numa etapa de imaturidade enorme e não podemos tratar essa condição como um retrocesso no processo de desenvolvimento, mas, como diz Castillo Ceballos, em “El adolescente y sus retos”, trata-se de um pedágio desse desenvolvimento.

O mesmo autor relata que nessa idade é comum que sejam imprevisíveis em suas reações, impacientes – querem tudo imediatamente, quando se frustram, costumam se afundar em seus sentimentos, são mais capazes de falar do que de fazer, de protestar do que resolver, são seres mais de desejos do que de esforços, tendem ao fácil. Costumam ser desordenados (com horários e planejamentos), pessimistas e incoerentes (não fazem o que dizem). Dessa condição inicial, imatura, precisam caminhar em busca da maturidade, esse é um grande desafio, que precisa ser enfrentado por toda a família. Afinal, eles só alcançarão essa maturidade por meio de um processo educativo comprometido.

Pais, compreendam: a desobediência do adolescente não tem o mesmo caráter da desobediência infantil. Na adolescência, custa-lhes mais obedecer porque estão empenhados em se tornar grandes, ou seja, estão buscando ter mais autonomia, porém, encontram muita dificuldade de fazerem isso se continuam na dependência das determinações dos pais. Para que alcancem a capacidade de viverem por si mesmos, precisam criar uma distância do olhar protetor dos pais, precisam questionar a validade dos limites e regras estabelecidos por estes. Os adolescentes nessa etapa inicial também são extremos em suas percepções e, portanto, buscam a independência e querem não ter regra alguma que limite sua almejada “liberdade”, mas ainda a associam à satisfação de seus desejos.

Para que possamos ajudá-los a ganhar uma maturidade efetiva, é preciso conhecermos esses desafios que se impõem e compreendermos que não se trata de um comportamento contra a família ou os pais, mas, sim, de uma crise de crescimento que precisa de um manejo adequado, de um direcionamento mais sutil. É preciso que os pais mudem a conduta com os adolescentes e que abram possibilidades de exercício da autonomia social, da liberdade de escolha, porém, tudo isso com um olhar atento e orientador. É fundamental encontrar uma medida – não se pode controlar tudo o que faz o adolescente, mas não podemos abandoná-lo à sua imaturidade e crise de crescimento sem nenhum amparo.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

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