Adolescentes: compreendê-los para ajudá-los a crescer (II)

Tendo em vista tudo o que foi dito sobre a adolescência no artigo anterior – Adolescentes: compreendê-los para ajudá-los a crescer (I) –, gostaria agora de deter-me mais em alguns aspectos práticos da relação dos pais com o adolescente.

O processo de crescimento das crianças rumo à vida adulta precisa ser um progressivo de aumento da capacidade de compreender, realizar, decidir e arcar com as consequências das decisões, ou seja, de crescer na autonomia em seus diversos aspectos: autonomia de execução, de decisão e de análise sobre as circunstâncias.

Ao longo da primeira infância, a criança cresce em autonomia de execução (é progressivamente capaz de guardar seus próprios brinquedos e pertences, de tomar banho sozinha, de trocar de roupa, de contribuir com pequenas tarefas no lar…), mas, os pais, como adultos, precisam tomar para si os papéis de análise das circunstâncias e decisão do melhor a ser feito. Nesse processo, ensinam limites, critérios, valores e virtudes para seus filhos.

Conforme as crianças passam para outra etapa da infância, é preciso ir aumentando as oportunidades de que exercitem a autonomia de análise e de escolha. Os adultos sempre precisam definir quando é possível e educativo que elas escolham.

Existem alguns critérios importantes para isso: o assunto a ser decidido; a gravidade da consequência no caso de uma má escolha; e a capacidade da criança de realizar alguma análise sobre tal assunto.

Dos 7 aos 11 anos, a criança já possui uma racionalidade mais lógica e temporal, o que a ajuda na realização de um movimento de análise um pouco mais amplo. No entanto, ainda é fundamental que os pais conversem com os filhos, ajudem-nos a pensar e considerar as consequências e, depois, é preciso deixá-los arcar com as consequências da escolha, pois esse é um passo importantíssimo de aprendizagem.

Quando a criança vai sendo acompanhada nesse caminho de crescimento, ganha gradativamente virtudes importantes: a temperança, a ordem, a prudência, a obediência, enfim, é preparada para a próxima etapa: a adolescência.

Na adolescência, é necessário manter esse processo de crescimento das autonomias: aumentam as oportunidades de autonomia de análise e de decisão. Não podemos perder de vista, no entanto, que ainda estão em tempo de treino dessas habilidades. Por isso, é tão importante os pais os acompanharem de perto, conversarem, promoverem reflexões e definirem quando estão aptos ou não para decidir.

No processo de treino, existem idas e vindas. Por vezes, deixamos que decidam sobre algo num determinado momento, mas em outro precisamos impedir que protagonizem a decisão – tudo dependerá da maturidade que apresentem no processo. Para que vocês, pais, percebam isso, só existe uma fórmula: ouçam os argumentos de seus adolescentes, entendam suas análises, promovam conversas e leituras edificantes e sejam presentes na vida deles.

Ouço muitos pais de adolescentes dizendo: “Não adianta, ele não larga o celular; não escuta o que falo; não quer almoçar quando chamo; fica até de madrugada na internet…” Agora, pensem: quem deu autonomia para que decidissem sobre esses assuntos? Quem é a autoridade sobre eles? A autoridade se mantém com a força da coerência, do exemplo de vida, do comprometimento com os filhos, da admiração que se desperta neles. Será que vocês estão conseguindo exercer essa autoridade sobre os adolescentes ou estão simplesmente admitindo que “eles são assim mesmo, não há o que fazer”?

Várias estratégias são muito boas para ajudar os adolescentes a amadurecerem rumo à vida adulta:

  • Reuniões de família, nas quais cada um se posiciona sobre determinados assuntos, analisando-o o mesmo e se delibera em conjunto sobre o que será feito a respeito;
  • Cine debate em família, a partir de um filme interessante, que tematize assuntos importantes para essa etapa da vida. Assistam a ele juntos, promovendo depois um momento de conversa e análise sobre o filme;
  • Momentos de convívio com os amigos dos filhos na casa da família: jogos de tabuleiro, lanches aos finais de semana etc. Abrir a casa para os amigos deles é uma estratégia interessante para conhecer bem o grupo e promover experiências edificantes a todos;
  • Praticar esportes juntos.

Enfim, também na adolescência, os filhos precisam de muita ajuda dos pais para enfrentarem os desafios que se colocam nessa caminhada para a vida adulta. Não há receita pronta para isso. Cada filho é uma pessoa única, diferente, que demandará dos pais um olhar e uma atenção também diferentes.

Portanto, pais, cuidem dessa etapa da vida com toda atenção e carinho. É uma fase desafiadora, mas muito importante para a vida de seus filhos. Hoje, infelizmente, há muitos adolescentes perdidos, mal-orientados por estarem sendo conduzidos muito mais pelas redes sociais do que pelos valores familiares.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

Foto: Divulgação do evento Economy of Francesco

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