Casa com crianças e o desafio da ordem

Certamente, um dos grandes desafios numa casa com crianças é a manutenção da ordem, seja material, seja temporal.

É comum tendermos aos extremos: alguns ficam sem paz ao observar a casa mais desordenada, com brinquedos espalhados e objetos fora do lugar; outros se colocam na seguinte posição: é assim mesmo, nem adianta tentar organizar, afinal, são pequenos e não vão conseguir manter as coisas organizadas. “Bagunça é vida”, “casa que não tem bagunça não tem alegria” e assim por diante…

Claro que a ordem é uma virtude importante na vida da criança, da família, na vida de qualquer um de nós, mas, como virtude, precisamos lembrar o que nos diz Aristóteles – está no equilíbrio: nem no excesso nem na falta.

Sermos escravos de uma ordem, seja material, seja temporal, não pode trazer bons resultados. Na vida da família, a ordem é necessária para se construir um convívio harmonioso entre todos, ou seja, não se trata de uma mania, mas de uma virtude que dê espaço para “a vida espontânea do amor”. Uma virtude que, vivida pelos pais, oferece exemplo aos filhos.

A ordem material estimula a experiência de tranquilidade e de beleza. Um ambiente ordenado é mais seguro, oferece maior facilidade para que se encontre o que se busca, fornece uma experiência de harmonia visual; enfim, traz informações importantes na constituição dos bons hábitos desde o início da vida.

Hoje, uma corrente de mães e educadores se coloca a questionar se o trabalho de se empenhar em manter a ordem e ensinar os pequenos a ordenar o ambiente valem à pena. “Se são pequenos e têm dificuldade de juntar, guardar, e logo irão querer brincar novamente, por que não deixar tudo fora do lugar e não se estressar com isso?”; “Quando crescerem, aprenderão a guardar as coisas e mantê-las em ordem”.

Senhores pais: educar dá muito trabalho. Mas como sempre digo por aqui: não educar dá muito, muito mais. Não se enganem achando que uma criança viverá o caos e, com o crescimento, aprenderá que o caos não é bom e que precisa ordená-lo. De onde ela tiraria essa informação? Se ela já introjetou em seu imaginário e na sua memória que tudo bem viver em meio a objetos e brinquedos espalhados pela casa, por que decidiria de uma hora para outra mudar esse mau hábito? Isso pode até, eventualmente, acontecer. Em alguns poucos casos, a pessoa fica tão incomodada com o que viveu que acaba lutando bravamente por mudar essa realidade quando tem autonomia para isso. Mas tenham certeza, essa não é a regra. O ordinário é que as pessoas levem para a vida os hábitos que foram construídos na infância. Portanto, não transformem a ordem em mania. Tudo o que excede o razoável afasta e cria resistência; afinal, impede que se brinque com alegria e se torne o ambiente acolhedor. No entanto, não desprezem a necessidade de se resgatar a ordem após as brincadeiras, de atraí-los para a beleza de um quarto arrumado, de uma caixa de brinquedos ajeitada, de sapatos no lugar – como facilita encontrá-los!!

Adaptem as expectativas à realidade de cada etapa da vida das crianças, mas envolva-as na busca da ordem com exemplo, estímulos, elogios aos pequenos gestos. Constância, coerência e dedicação são sempre necessárias no processo de educação das crianças. Não se deixem levar por discursos incoerentes e que buscam facilitar a vida dos pais. Lembrem-se sempre: facilitar agora pode ser criar uma enorme dificuldade no futuro e, quanto mais tarde, mais dificuldade se encontrará no processo de educar.

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