Difícil imaginar uma cena mais comovente que nos cative e nos proporcione a paz do que a mãe carregar no colo seu filho pequeno. Talvez um dos temas em que os pintores se detiveram, em uma infinidade de quadros da Madona e o menino. Os fotógrafos não conseguem esgotar as diferentes formas de a mãe levar o filho nos braços. As famílias registram os momentos encantadores dos filhos no colo da mãe no primeiro instante após o nascimento. Diga-se de passagem, já há muito tempo, assim que a criança nasce, deixá-la um tempo no colo da mãe é a primeira atitude pós-parto.
Um mistério. Não encontro outra palavra para explicar a sublimidade deste momento. Duas pessoas distintas numa unidade inseparável. Como se fala, a criança nos primeiros meses ainda se sente parte da mãe, até que pouco a pouco vai se identificando como alguém completo. Vai se reconhecendo como um novo ser. Entretanto, o cordão umbilical cortado, que estabelece novos circuitos fisiológicos, não oferece ainda uma independência plena… e parece que permanecerá por toda a vida. A cena de Nossa Senhora ao acolher o corpo chagado de seu Filho, descido da cruz, é a expressão máxima desta ligação sublime, sem tempo para terminar.
Colo leva a acolher. E acolher nos braços que sustentam o indefeso o mais próximo de si, para que se sinta seguro. No colo, corações se falam e se escutam num diálogo de percepções sem palavras, no qual não há idiomas distintos, mas uma linguagem universal: “Eu te amo. Eu te protejo, agasalho e alimento. Comigo estarás em paz”. Neste âmbito, a mãe manifesta a graça de Deus presente na mulher pela maternidade, e, em cada filho, a nossa condição de criaturas elevadas a ser filhos de Deus.
Com o passar do tempo, vamos deixando o colo da mãe e andamos pelas próprias pernas. Contudo, quando vem o cansaço das corridas de brincadeiras, o sono da noite, os braços erguidos em súplica buscam os braços que o conduziram ao colo da mãe. É uma estação obrigatória antes de ser colocado no berço. Mais tempo, e já o colo se vai esquecendo. As pernas fortalecidas, a autonomia desenvolvida, levanta-se e deita-se sem o colo, que já não pode sustentá-lo. Às vezes, porém, bate a saudade, mas, sem poder ser carregado, se busca deitado debruçar a cabeça no colo da mãe. E nos dias cinzentos, de brigas e dificuldades da vida… o colo vem à memória como um remédio da magia da alquimia que cura a tudo sem querer saber como ou porquê.
Colo, porto seguro. Não podemos deixar de olhar ao nosso redor e perceber que na sociedade atual está sendo esquecido, terceirizado, substituído por frias cadeirinhas almofadadas. Já escrevemos aqui sobre a importância dos primeiros anos da memória oculta da criança. Não se recorda, mas se viveu. E há toda a diferença entre ter tido um colo de mãe, ou não. O solo onde se coloca a semente é fundamental para o seu desenvolvimento para sempre. Se isto é valido para uma planta, o que se dirá para uma criança?!
Aproveitemos este mês de maio, dedicado às mães, de modo particular à Mãe de toda a humanidade, estabelecida pelo próprio Cristo: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” (Jo 19,26-27). Renovemos os nossos valores em dar a importância devida a esta condição de colo da mãe. Saibamos transmitir isso aos filhos e netos. Que eles percebam o quanto este pequeno gesto, com uma transcendência enorme, pode ser, a exemplo de Maria, o caminho de esperança que conduzirá à Paz, pelo amor, junto o seu Filho Jesus.
Valdir Reginato é médico de família. E-mail: reginatovaldir@gmail.com