Há aproximadamente 30 anos, os celulares foram introduzidos em nossas vidas e, rapidamente foram se transformando de aparelhos telefônicos a computadores portáteis. Notebooks e tablets também se tornaram peças cada vez mais “necessárias” no cotidiano dos adultos e, logo na sequência, dos adolescentes e crianças.
A coisa foi tomando vulto e ganhando tal naturalidade que, sem nos questionarmos, fomos introduzindo crianças pequenas e bebês nesse universo de entretenimento.
Muito material “apropriado” a essa faixa etária foi surgindo e, as crianças se mantinham tão atentas a tudo que se apresentava que, de algum modo, tornou-se confortável deixá-las aos cuidados dessa “babá eletrônica” que tornava a tarefa do cuidador muito mais simples – é obviamente mais fácil realizar as tarefas da casa com uma criança entretida e “aprendendo” com as telas.
Ocorre que, o que antes não sabíamos, era que o aperfeiçoamento tecnológico constante traria cada vez maior impacto negativo ao desenvolvimento das crianças expostas às telas. Que, em vez de estarem aprendendo, estavam somente em exposição a estímulos excessivos e inadequados, uma vez que não há interação real.
Hoje, algumas décadas depois, muitas pesquisas, observações e orientações de conselhos profissionais nos mostram, com clareza, o quanto a exposição às telas pode ser devastadora para as crianças, especialmente em determinadas fases da vida.
Ocorre que temos a tendência a naturalizar toda a técnica que surge como algo que precisa ser incorporado à vida das pessoas e pronto. Como evitar que crianças usem telas? É natural que queiram e que usem, nasceram nessa geração em que tudo se faz por meio das telas e via internet, assim, como não familiarizarmos os pequenos com isso desde sempre?
Somos seres inteligentes e precisamos usar a capacidade intelectual a nosso favor. Precisamos deixar de embarcar em todas as “verdades” que nos são apresentadas e olhar de modo criterioso para a realidade: será que não conseguimos identificar com nossos próprios olhos que estamos tirando das crianças a oportunidade de viverem uma infância rica em experiências reais? Será que não olhamos com tristeza para nossos filhos hipnotizados pelas programações e jogos virtuais e quase sem capacidade de interação social saudável com aqueles que estão em seu entorno? Será que não percebemos a agitação e a irritabilidade aumentando progressivamente nessas gerações ditas digitais? Mais do que isso: temos coragem de perceber o quanto nós, adultos, estamos escravizados por esse instrumento que certamente, como todo e qualquer instrumento, pode ser bem ou mal usado?
Sim, meus queridos, tudo o que é de fato bom exige esforço, exige coragem, exige empenho. Certamente, nossos filhos precisarão aprender a usar as telas, a tecnologia e as possibilidades infinitas que esses instrumentos nos trazem. Mas antes, precisam aprender a ser pessoas, a desenvolver o potencial humano que têm e que será a base de um bom ou mau uso de todo e qualquer instrumento que forem utilizar.
Por isso, não se ancorem em discursos cômodos e prontos – é impossível, como evitar, todos têm… Lembrem-se: crianças gostam de brincar e não conhecem nada quando nascem; nós é que apresentamos tudo. Se elas gostam ou querem as telas, é porque as apresentamos a elas. Se elas pedem isso, é porque pedem tudo que traz conforto e prazer, isso é natural na infância. No entanto, como responsáveis por elas, precisamos permitir o que é melhor e limitar com determinação o que não ajuda no crescimento.
Tenham coragem de ter trabalho: de ensinar os filhos a brincar de faz de conta, de explorar diferentes materiais, de proporcionar passeios que ofereçam contato com a natureza, de aprender a conviver com o ócio, com o “não ter nada para fazer”. Cantar, montar legos, quebra-cabeças, correr, dançar, pintar…. sim, há muito o que fazer. Claro, é trabalhoso, é menos cômodo, exige maior empenho e criatividade, mas gerações e gerações tiveram infâncias sem telas, por que agora ficou impossível essa realidade? Você e eu sabemos que não é impossível, não nos enganemos. Olhe bem para seu filho e decida: ‘Que futuro quero para ele?’ Feito isso, não se esqueça: esse futuro está sendo construído hoje, a cada momento, a cada orientação. Não perca tempo, tenha coragem de fazer o melhor e não o mais confortável.