Na família, assim como no mundo, vivemos a realidade do convívio entre pessoas únicas e irrepetíveis. Mesmo com uma carga genética muito semelhante, com rotinas e costumes essencialmente idênticos, não é difícil para todos os que têm filhos perceberem o quanto são diferentes entre si.
Uns, ao nascer, já parecem mais ativos, comilões e atentos; outros são mais passivos, sonolentos e risonhos; enfim, podemos notar, desde muito cedo, características bem distintas entre os pequenos.
Esse fato precisa nos trazer um questionamento importante: como devemos nos dedicar a formar as diferentes pessoas que foram a nós confiadas?
É muito comum, no dia a dia, tomarmos como critério de ação com os filhos a ideia de justiça: o que fazemos para um é justo que façamos para todos. Diante dessa premissa, muitas e muitas ações acabam sendo equivocadas e geralmente promovem o contrário dos objetivos educativos dos pais.
Vamos entender o porquê. Muito embora, normalmente, o objetivo educativo dos pais para os filhos seja o mesmo – formar pessoas honestas, íntegras, que possam fazer o bem e ser felizes –, o caminho para alcançar essa meta será diferente para cada um.
Quando empreendemos uma viagem, precisamos definir o destino, esse é o primeiro passo. Em seguida, o meio de transporte, e daí, sim, poderemos escolher o melhor caminho ou a melhor rota a seguir. Nessa perspectiva, podemos pensar também o processo educativo de nossos filhos. O primeiro passo é colocarmos objetivos a longo prazo: que tipo de pessoa queremos formar? Determinado isso, temos o destino definido. Importante passo. Agora, precisamos conhecer cada um daqueles que pretendemos levar a esse destino para podermos definir qual o melhor caminho para cada um percorrer.
Quando olhamos para os filhos, precisamos lembrar que eles têm temperamentos diferentes e, exatamente por isso, irão viver as experiências e responder aos estímulos de modos diferentes. O que para um é um desafio que move a crescer, para outro pode ser algo que paralisa, e esse é um dos maiores desafios da educação.
E o que devemos observar em cada um? Vamos lá:
- Reage a situações de modo intenso? (Muita alegria, muita tristeza, muito medo…);
- A reação é rápida ou demorada;
- Atende às orientações com prontidão ou demora e resiste muito a elas;
- Costuma contar tudo e compartilhar os acontecimentos ou guarda mais para si;
- Mantém a atenção e interesse em uma atividade por mais tempo ou rapidamente muda o foco;
- Relaciona-se com os demais com facilidade ou mantém-se mais próximo aos pais;
- É sempre sincero com as pessoas ou tende a agradar aos demais.
Muitos são os aspectos que podemos observar com atenção e que podem trazer luzes ao caminho educativo que devemos seguir com cada um para que possamos alcançar o objetivo com mais eficácia. Isso não significa que seremos mais exigentes com uns do que com outros, ou que estabeleceremos rotinas diferentes, mas, sim, que o modo de exigir, o que exigir e como estabelecer as regras precisa se adaptar às necessidades de cada um.
Vamos, então, repensar a questão da justiça nas relações familiares: justa é aquela ação que corresponde à necessidade de cada um e não uma ação igual para todos. Por isso, pais, comparar os filhos e exigir que tenham comportamentos ou reações muito semelhantes não costuma ser um bom caminho. Aliás, ajudá-los a perceber que são diferentes e que cada um, a seu modo, pode chegar a ser uma grande pessoa é uma aprendizagem riquíssima.
São diferentes e agirão de modo diferente: lutem, sim, para que cada um, a seu modo, viva os valores e princípios que são essenciais para que sejam pessoas que fazem a diferença na vida da sociedade.
Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.