Crianças, adolescentes e o universo virtual

Estamos diante de um desafio cada vez maior: educar os filhos tendo em vista duas dimensões: a real e a virtual. Evidentemente, são muitos os benefícios que a internet e as mídias sociais trouxeram à nossa vida: 

  • Não existem mais fronteiras para a comunicação com pessoas queridas;
  • As informações estão ao alcance de todos;
  • As pesquisas e estudos foram facilitados de modo fantástico;
  • A locomoção se tornou mais ágil, graças aos aplicativos desenvolvidos;
  • Muitos problemas podem ser solucionados a distância;

Enfim, não se trata aqui de demonizar essa realidade, ou melhor, esses instrumentos que vieram para ficar e que, como todo e qualquer um deles, não é, em si, nem bom nem ruim: tudo depende do uso que se faz deles. 

O que percebo hoje, no que diz respeito à internet e mídias sociais, é que, como os pais consideram que os filhos já nasceram na era da “geração digital”, estão aptos a usá-las, ou seja, faz parte da vida deles com naturalidade. 

Esse é um imenso engano. Como tudo nesta vida, precisamos ensinar nossos filhos a usar a internet e as mídias sociais; afinal, são um mundo de informações, exposições e conteúdos na mão dos pequenos.

Pesquisas mostram que 22 milhões de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos possuem contas nas redes sociais, muito embora a idade mínima para isso seja 18 anos. 

Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), 85% das crianças e adolescentes brasileiros já são usuários da internet. Ou seja: estão com o mundo ao toque dos dedos.

Na verdade, quando permitimos que crianças e adolescentes estejam com acesso à internet, é como se estivéssemos dando em suas mãos armas muitíssimo perigosas para brincar, e que, com certeza, podem machucá-los.

Como muitos pais desconhecem os grandes riscos presentes na internet a seus filhos, aqui vão alguns: entre os maiores deles estão o abuso sexual, sexting (compartilhamento de conteúdo erótico – textos, fotos ou vídeos – em aplicativos de mensagens e redes sociais), extorsão, grooming (aliciamento de menores pela internet, com o intuito de se buscar benefícios sexuais), acesso a conteúdos inapropriados para a idade que podem prejudicar o desenvolvimento, cyberbullying, além da publicação de conteúdos inadequados por parte deles. Talvez muitos dos leitores não conheçam nem sequer esses riscos que mencionei. Assim, pesquisem e procurem informações, e certamente ficarão horrorizados com os dados que encontrarão.

Além de todos esses, ainda temos outro aspecto muito preocupante: a inteligência e cognição dos pequenos está ficando prejudicada com o excessivo uso de telas; afinal, o que estimula pessoas são pessoas, e a tela não faz esse papel.

Aqui vão algumas sugestões para a educação nesse campo:

  1. Crianças:
  • Quanto menos tempo diante das telas, melhor;
  • Estabeleça com clareza limites de tempo a cada etapa da infância;
  • Nunca deixe  que usem a internet sem supervisão;
  • O uso de telas deve acontecer sempre nos lugares públicos da casa (sala de estar, escritório, entre outros);
  • Criança não precisa de celular e tablet;
  • Não use telas como distração na hora da alimentação, nos trajetos de carro, nos restaurantes;
  • A realidade precisa ser vivida, pois ela ensinará valores e virtudes. Interaja a maior quantidade possível de tempo com seus filhos;
  • Crie um ambiente familiar alegre e divertido, que atraia a criança para as relações reais;
  • Acompanhe e faça curadoria do que a criança vai ter acesso;
  • Dê exemplo, usando a internet com temperança.
  1. Adolescentes:
  • Uso de telas somente nos lugares públicos da casa;
  • Não devem ter acesso à internet no quarto, especialmente no horário de dormir;
  • Ter o próprio celular quando puder pagar por ele – antes disso, usar em momentos de necessidade um aparelho “da família”. Importante: esses momentos são definidos pelos pais;
  • Conversar abertamente e com clareza sobre os riscos e cuidados necessários;
  • Não permitir o uso de fones em reuniões familiares e momentos de convívio;
  • Tempo de uso: quanto menos, melhor;
  • Quando tiverem perfis nas mídias sociais, acompanhar de perto as postagens e interações.

O filtro mais eficaz é o interno: dê uma formação consistente e não terá problemas.

Ensinar, cuidar, formar dá trabalho. Mas é uma grande oportunidade e alegria ser responsável por levar os filhos ao máximo potencial possível. Coragem!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

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