Cuidar da saúde emocional dos filhos em tempos de pandemia

Eis que voltamos atrás nas aulas presenciais, que tanto bem fazem aos nossos pequenos!

Diante dessa realidade, gostaria de convidar vocês a uma reflexão fundamental sobre como manter a saúde emocional das crianças. Em primeiro lugar, precisamos ter em mente como funcionam nossos pequenos. Do 0 aos 6 anos, as crianças ainda não se encontram na idade da razão, o que significa dizer que muito pouco conseguem elaborar racionalmente de tudo o que percebem e escutam. As aprendizagens e a formação do conhecimento nessa faixa etária se fazem via percepções sensíveis: o que experimentam, vivenciam, sentem e percebem informa muito mais do que o que ouvem em termos de explicações racionais. 

Embora depois dos 2 anos já falem e, aparentemente, muito bem, as relações que fazem ainda são muito pautadas na imaginação, em pouca compreensão da causalidade e não conseguem acompanhar o raciocínio lógico dos adultos, como muitas vezes os pais imaginam. Eles ainda percebem tudo somente de seu ponto de vista (por causa do egocentrismo que domina essa etapa), ainda não conseguem perceber a reversibilidade das operações, encontram-se “engatinhando” em suas possibilidades de compreensão do mundo. Evidentemente, essas capacidades vão aumentando com a idade, de modo que uma criança de 5 ou 6 anos já consegue perceber melhor o ponto de vista de outra pessoa do que uma menor de 4 anos. Ainda assim, não há uso de razão para elaborações mais complexas. 

Partindo dessa compreensão, vamos pensar o que significa para esses pequenos esse mundo de informações e mudanças que estamos vivendo no último ano. A rotina deles foi completamente mexida, estão vivendo em casa a maior parte do tempo, com pouco contato com outras pessoas, amiguinhos, familiares mais distantes, alguns estão privados do contato com os avós (algo tão importante nessa etapa da vida). O pior: vivendo um clima de ansiedade generalizada. A escola, que oferece uma possibilidade de organização da rotina e convívio, parou novamente. 

O medo do “tal” vírus toma conta dos adultos e deixa o ambiente da casa tenso, sem mesmo que se perceba isso com clareza. As crianças mais velhas, dos 7 aos 11 anos, já conseguem uma compreensão mais racional do assunto, nem por isso menos angustiante. Sentem-se inseguras e tolhidas de muitas atividades que nessa faixa etária são muito importantes para o bom desenvolvimento.

Não esconder os sofrimentos dos pequenos e os ajudar a suportar as frustrações e dificuldades que a vida real ofereça é, sem dúvida, papel dos pais. Porém, oferecer um ambiente saudável e um clima equilibrado para o convívio é fundamental até mesmo para isso. 

Sendo assim, sugiro aos pais algumas ações que protejam as crianças dessa situação de ansiedade em massa que estamos vivendo:

  • Evitem jornais e programas que tratem do assunto enquanto as crianças estão no ambiente;
  • Não as assustem quanto a sair na rua: não tratem o assunto como se o fato de sair trouxesse um perigo iminente de pegar o vírus – elas podem internalizar e generalizar essa informação. Esse perigo não é real, lembre-se de que é preciso contato com as pessoas e suas secreções para o contágio. 
  • Levem as crianças a lugares abertos para brincar e passear ao menos duas vezes por semana (elas precisam de espaço, de contato com a natureza e com outras crianças).
  • Guardem seus medos e ansiedades para vocês adultos. Para a criança, os pais são porto seguro – é assustador para eles verem essas referências tão importantes completamente amedrontadas. Não conseguirão lidar com isso de modo positivo. 
  • Inventem brincadeiras com objetos – caixas, potes, papéis –, evitando ao máximo os eletrônicos, já estão submetidos a eles para atividades escolares. Os eletrônicos também estimulam o imediatismo, a ansiedade e a agitação. 
  • Para os alfabetizados, estimulem a leitura – leiam juntos um livro interessante, conversem a respeito. Brinquem com jogos de tabuleiro, os envolvam em tarefas da casa.

Lembrem-se: cuidar da saúde emocional é tão importante como cuidar da saúde corporal, aliás, pessoas emocionalmente equilibradas costumam ter um sistema imunológico muito mais eficaz, acreditem.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

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