Direitos das crianças

Numa época em que tanto se preza e se luta pelos direitos, gostaria de fazer um apelo em nome daquelas que ainda não sabem fazer por si mesmas, as crianças. 

Crianças nascem absolutamente dependentes, inaptas à vida e ao mundo. Precisam de cuidados e estímulos para sobreviver e aprender a viver. Nascem tão pouco marcadas por instintos e, graças a essa condição, superpreparadas para aprender e, mais do que isso, sedentas de aprendizagem. São solo virgem, são argila que precisam de mãos artesãs dispostas, são vidas a serem formadas e transformadas em pessoas de bem, lúcidas, sensatas.  Têm direito a isso. 

Elas têm o direito de serem cuidadas segundo suas necessidades e não segundo seus desejos imaturos. Têm direito a ser introduzidas por seus pais a uma rotina apropriada para a fase em que se encontram e, assim, aprender bons hábitos. Têm direito a conviver com adultos que se responsabilizem e cuidem delas, decidindo sobre tudo aquilo que elas ainda não têm critérios e condições para decidir: o que e em que horário devem comer, que horário vão dormir, tomar banho,  acordar, assistir TV. Se vão brincar com eletrônicos e por quanto tempo… Que as protejam, especialmente de seus próprios desejos ainda insensatos exatamente porque são sujeitos em formação, não conhecem consequências.  Têm direito a ter pais que estejam preparados para amar, sabendo que o amor é exigente. Que amar pressupõe se doar, fazer o melhor e não o mais fácil, ensinar o bem, mesmo que custe, e não se acomodar esperando que aprendam com o tempo, enfim: acompanhar, corrigir, incentivar, elogiar, preparar. 

Têm direito a brincar com pessoas e não somente com telas.  Aliás, não somente de brincar, mas também de brigar, se desentender, disputar, conviver – com todas as alegrias, dores e afetos que isso possibilita. Têm direito de ter nos pais e cuidadores o suporte necessário para enfrentar e superar as frustrações, dificuldades, as situações novas, sem serem poupadas delas, afinal, adultos conscientes sabem que elas serão fontes ricas de aprendizagem. Elas têm o direito de viver as pequenas frustrações e descobrir que conseguem superá-las sem desmanchar, embora muitas vezes a gritaria e choradeira pareça o final dos tempos.  Têm direito a descobrir seu potencial criativo, sua capacidade de superação, sua força de vencer os pequenos obstáculos e, assim, aprender que são capazes de enfrentar a vida sem desmoronar. Têm direito a ser iniciadas no caminho das virtudes, na trilha de aperfeiçoamento que tão preciosa é se queremos que se tornem pessoas de bem. 

Têm direito de brincar na terra, de sujar as mãos, de andar descalças, de brincar de massinha, de sujar e ajudar a limpar, de brincar e organizar, de experimentar, vivenciar.  

Têm direito de aprender a respeitar os limites porque são colocados com autoridade –  despertando a virtude da obediência.  Têm direito de ser corrigidas e orientadas com muito amor, o que se reflete em carinho e firmeza. Têm direito de ser conhecidas e educadas a partir do que são: com suas características próprias, com suas tendências positivas e as negativas, com suas qualidades e suas limitações. Têm direito a ser educadas para aproveitar bem suas potências e aprender a lutar contra suas dificuldades, e isso somente se realiza quando os pais se dedicam a um convívio rico não somente em qualidade, mas também em tempo.  

Têm direito de se sentir pertencentes a uma família que as forje a partir de seus valores e princípios. Têm direito a um processo educativo que as ajude a ganhar autoestima, autonomia, capacidade de amar e servir aos demais.  Têm direito a ser educadas nos bons hábitos e virtudes e assim, aprender, com o tempo, a “enxergar”  os outros, a saber que todos têm seus quereres, necessidades e direitos. Aprenderão a  abrir mão daquilo que puder em benefício do bem comum. Aprenderão critérios para ser capazes de escolhas acertadas, sensatas, lúcidas – que preservem a vida delas e dos demais. Escolhas responsáveis, que visem não somente o benefício próprio, mas sim o da comunidade com a qual convivem. Aprenderão a lutar pelo que vale a pena uma vez que, desde pequenos, foram ensinados a discernir o bem do mal, a verdade da mentira, a beleza da feiura. 

Elas têm direito de aprender os valores e princípios que construírão um caráter reto, firme, que saberá conduzir as decisões e trilhar um caminho rumo a grandes ideais. 

Têm o direito de ser formadas para uma vida cheia de sentido, em que sejam adultos que fazem a diferença e deixam rastros de bem. 

Pais, não neguem esses direitos a seus filhos em nome de facilidades, comodismos ou de uma vida corrida. Não percam a oportunidade de crescer e ajudar seus filhos a crescer por entrarem em modismos que pregam a falta de autoridade, a igualdade entre pais e filhos, a vida leve e fácil. 

Formar pessoas não é tarefa fácil, mas é tarefa edificante. Coragem!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro

1 comentário em “Direitos das crianças”

  1. Simone é uma luta constante para darmos voz as crianças pela saúde mental , física e social .Muitas por comodimo ,justificado pela praticidade pais ou responsáveis abandonam seus papéis e passam a viver um mundo infantilizado , sem compromisso com a formação dos filhos a começar afetiva O acolhimento necessário à infância é banalizado , dando espaço ao mundo superficial das redes sociais, tecnologia e consumo . É preciso enxergar e reconhecer o milagre da Vida para agir e cuidar na proporção de sua preciosidade a começar da infância sem roubar o direito das crianças a viver a infância em sua plenitude Nossa luta é constante independente de classe social . Parabéns pelo artigo.

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