E se o sofrimento bate à porta?

Esta semana, vivi a experiência de acompanhar de perto uma situação bastante triste: pais que receberam um diagnóstico de uma doença grave do filho de 5 anos, que terão que submetê-lo a um tratamento pesado (que ainda nem sabem bem qual será). Eles não sabiam como dizer à criança o que estava acontecendo. 

Claro que uma situação grave como essa, poucas vezes se apresenta na vida das pessoas. Mas, acompanhando famílias há muito tempo, percebo que uma das maiores dores dos pais é perceber o sofrimento físico ou psíquico do filho. 

Dói nos pais uma doença do filho, um ferimento maior, uma privação no relacionamento com um determinado grupo de amigos, uma brincadeira mais apimentada de que a criança seja alvo, enfim, é duro ver os filhos sofrerem. 

Uma das primeiras e mais fortes manifestações do amor humano é o medo de perder. Obviamente, diante de uma circunstância real de perda que se apresente, os pais sentem o mundo desmoronar. Às vezes, quando menos preparados, até mesmo sofrimentos menores dos filhos tiram os pais do eixo. Sem dúvida, existem situações (como a relatada acima) em que é difícil encontrar forças para enfrentar e cumprir o papel que cabe aos pais: ensinar o filho a viver. 

Justamente pensando nisso, trago aqui algumas reflexões que considero importantes. 

1. A missão dos pais é intransferível e de suma importância – aqueles que dão a vida são responsáveis por manter a vida dos filhos (na medida do possível) e ensiná-los a viver. Viver todo tipo de situação – as felizes e as tristes, as fáceis e as mais difíceis, as esperadas e as inesperadas.

2. O vínculo entre pais e filhos é o mais primitivo da pessoa, aliás, todo ser humano é radicalmente filho, embora nem toda pessoa será pai e mãe. Esse vínculo precisa estar pautado no amor comprometido, responsável e na confiança – a verdade é o caminho da construção da confiança. 

3. Ninguém espera adversidades muito graves, especialmente quando pensa nos filhos, mas, ao acolherem os filhos, os pais precisam lutar pela virtude da fortaleza; afinal, sempre surgirão adversidades (na maioria das vezes não tão graves), mas que precisarão ser enfrentadas corajosamente se quiserem tirar delas uma aprendizagem saudável para os filhos. 

4. O mundo real precisa ser o lugar onde as relações e as vivências acontecem; nunca deve ser substituído pelo mundo imaginário ou o mundo virtual – onde as doenças, tristezas e maldades não entram. A vida não é assim. 

5. Já que todos somos filhos no que diz respeito à natureza humana, nunca se deve perder de vista que somos filhos especialmente de Deus. Aquele que é o único capaz de tirar de todo e qualquer mal um bem maior. Aquele que ama os seus filhos mais e melhor do que os pais mesmos os amam. Não levar essa filiação em conta dificulta demais viver com equilíbrio as adversidades que se apresentarem. 

Não se trata de ignorar a dor ou de não se importar com ela, mas de colocá-la no seu devido lugar e não se deixar guiar por ela e a compaixão que ela suscita. O melhor que os pais podem fazer é manter o vínculo de confiança por meio da verdade (contada na medida da capacidade de compreensão dos filhos e com o otimismo e segurança que somente os pais podem transmitir). 

Quando se trata de uma dor psíquica, capacitá-los a lidar com ela, sem tender a superproteger – defender, colocar-se no meio, falar por eles… 

Quando se trata de uma dor física ou de uma doença grave, dar suporte, encorajar, acompanhar, fortalecendo a criança, investindo em sua capacidade de superar. A família que encontra forças para enfrentar essas adversidades, especialmente as mais graves, certamente crescerá muito em amor, maturidade e união. 

Sim, é assustador pensar nisso, parece superar nossas forças e, com certeza, supera. Por isso, sempre que me deparo com uma situação dessa, penso: sem Deus, essa dor seria insuportável. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro 

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