Maternidade não é amizade

Cada dia chama mais a atenção a grande preocupação que as mães demonstram por serem amigas de seus filhos.

É muito comum ouvirmos: quero que ele saiba que pode contar comigo sempre, quero que ele me conte tudo o que acontecer sem nenhum medo, quero ser a primeira em que ele busque apoio. Para alcançarem esse objetivo, as mães acreditam que é preciso estabelecer uma relação de amizade com os filhos e, tomam por conceito de amizade, aquela que desenvolvem com outras pessoas ao longo da vida – na escola, nas igrejas, nos mais diferentes grupos de convívio. 

Me assustei outro dia com a conversa de uma mãe com uma criança de 2 anos. A mamãe vai ser sempre sua melhor amiga, nunca vou te deixar sozinha. A menina repetia você é minha melhor amiga.  Quanto equívoco!

Claro que percebo que essa mãe quer criar com a filha um vínculo de confiança, que quer ser referência e porto seguro para ela. O que ela e muitas outras não sabem é que elas já têm o caminho aberto para essa realidade sem precisarem convencer os filhos desse modo.

Vivem uma confusão conceitual – não estão percebendo o que é amizade, o que é amor materno, o que é o vínculo familiar bem formado e qual o papel fundamental da hierarquia nas relações. 

O vínculo da mãe com o filho é fundado na geração da vida, na manutenção dela – tanto no que diz respeito ao aspecto orgânico como afetivo. Desde a barriga, o bebê depende completamente da mãe para sobreviver e crescer. 

Esse vínculo é muito maior e mais forte do que qualquer vínculo de amizade que se forme, desde que seja cuidado e colocado como prioridade. O melhor que uma mãe pode fazer para manter seu lugar na vida de seus filhos é ser uma mãe suficientemente boa. Não perfeita, pois é impossível, não amiga, pois não é suficiente, mas sim envolvida, atenta e corajosa. Com coragem de buscar o melhor para o crescimento do filho, de levantar a cada erro e retomar a luta de educar cada um dos seus. Uma mãe que saiba comunicar seu amor não somente com palavras, mas com atitudes – amar é doar-se e ensinar o pequeno a se doar, amar é sair de si (do seu egoísmo e conforto) e fazer o melhor mesmo que seja difícil e desgastante. Amar o filho é lhe dar contorno, colocar limites que mostram direção segura. Amar o filho é ser para ele uma referência de busca, de luta – um farol que indica um caminho que se acredita ser o melhor. 

Amar o filho é suportar não ser querido sempre, pois obviamente nem sempre suas resoluções e limites serão bem-vindos para ele.

Amar o filho significa manter com ele uma relação claramente hierárquica. Segundo estudos na área da Psicologia Familiar, “uma hierarquia interna clara e inequívoca é requisito necessário para o adequado funcionamento familiar”, afirma Salvador Minuchin, em “Families and Family Therapy”, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1974. A disfuncionalidade familiar, normalmente, é identificada quando existem problemas de comunicação gerados por uma forma de organização que funciona de maneira inadequada, devido a confusões a nível de hierarquia.

A amizade normalmente se estabelece numa relação entre iguais, e a relação mãe e filho necessariamente precisa ser desigual para que seja saudável. Uma mãe suficientemente boa ansiará por ser referência para seus filhos, não por saber tudo o que pensam ou querem, mas por se fazer modelo de entrega, de amor que se responsabiliza, que oferece caminhos e forma os filhos para enfrentarem a vida corajosamente. 

Essa relação enriquece a existência do filho, pois, mais do que uma amiga, tem na mãe um sentido, uma direção.  Quando esse vínculo se nutre e cresce, mesmo que falte a mãe, o filho guardará em sua alma as preciosas orientações e, mais ainda, o maravilhoso exemplo de uma pessoa que lutou para, apesar de suas limitações e fraquezas, dar o seu melhor aos filhos que gerou. 

Amigos seus filhos terão muitos, mãe somente você. Nunca se sinta tentada a sair desse lugar tão sublime e importante de mãe que é só seu, pois deixará seu filho “órfão”. Pense nisso. 

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