Continuando nossas reflexões sobre o que podemos aprender neste ano de 2020 com maior intensidade, passamos agora para a:
Lição 2 – Resiliência/Fortaleza – Já há algum tempo, muito se tem falado da importância da resiliência para a vida profissional, para o enfrentamento das situações adversas que surgem no cotidiano. Segundo definição do “Dicionário On-line”, resiliência é a propriedade dos corpos que voltam à sua forma original, depois de terem sofrido deformação ou choque. É a capacidade de quem se adapta às intempéries, às alterações ou aos infortúnios. Tendência natural para se recuperar ou superar com facilidade os problemas que aparecem.
A resiliência, em minha opinião, é uma forma reduzida da virtude da fortaleza, uma vez que a segunda, por definição, abarca e supera a primeira. Segundo Francisco Faus, em seu livro: “A conquista das virtudes”, a “fortaleza é uma virtude moral que robustece a nossa vontade, para que sejamos capazes de enfrentar, sem medo, coisas boas que são difíceis; e de irmos atrás do bem custoso, ‘árduo’, sem desistirmos, dispostos a sofrer, por esse bem difícil, sem nos queixarmos nem desistir. A fortaleza tem duas manifestações: 1. A capacidade de enfrentar, de empreender, assumir ideais, tarefas ou deveres difíceis. 2. A capacidade de resistir, de aguentar”. Ela é uma virtude moral que dá firmeza e constância na procura do bem.
A resiliência, portanto, se restringe, basicamente, ao segundo aspecto da fortaleza. Não há nela uma preocupação a priori da busca do bem.
Neste ano de 2020, a quarentena proporcionou a todos a experiência de vivermos frustrações diárias, sem possibilidade de fugirmos delas; assim, foi preciso suportá-las.
Em busca de um bem maior (a saúde), precisamos renunciar a muitas coisas: passeios, almoços em família, encontros com amigos, viagens, compromissos de trabalho já agendados… Enfim, infinitas foram as situações.
Os filhos, normalmente atendidos em seus “desejos infantis”, porque nós, pais modernos, temos medo de que não se sintam amados, que fiquem traumatizados ou que não nos amem se não os atendermos, também precisaram lidar com essas perdas momentâneas – não conviver com os colegas, não ir aos parques e escolas, não ver os avós…
Na verdade, apesar de todas as perdas, acredito que tivemos a grande oportunidade de fortalecer nossa musculatura interna, de perceber que somos maiores do que os desejos e que podemos criar alternativas para situações difíceis.
Olhando para o presépio, vemos exemplos claros de fortaleza: Maria, confiante e corajosa, viajando em condições precárias e dando à luz sem o mínimo conforto; José, dedicado completamente a cuidar e acompanhar Maria; e o Menino Jesus, com toda a dedicação, apesar de tudo estar acontecendo de um modo que nunca imaginou antes; os magos, que abriram mão do conforto e abundância para sair em busca do Salvador, enfrentando as adversidades e surpresas do caminho.
O que podemos aprender e ensinar com tudo isso para chegarmos à fortaleza?
- Confiança: cultivar a capacidade de crer nas pessoas que nos rodeiam, nas nossas habilidades para enfrentar a dificuldade e, especialmente, na Providência de Deus que de tudo cuida com carinho, mesmo que de modo diferente do que planejamos.
- Otimismo: cultivar a disposição de ver as coisas pelo lado bom e esperar que, por mais difícil que a situação pareça, traz um bem para quem a vive.
- Coragem: estimular em nós mesmos e nos filhos a firmeza de espírito para enfrentar situações difíceis, para encarar o perigo com bravura.
Vamos cultivar atitudes que visam à busca de um bem maior e não simplesmente de conforto e prazer.
Que toda essa experiência que vivemos em 2020 nos ajude a contemplar a beleza e a grandeza das atitudes desses personagens presentes no presépio e nos capacite a buscar com determinação a virtude tão importante que é a fortaleza.
Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br Instagram: @sifuzaro