O começo da vida: a importância do vínculo desde a gestação

A vida humana e o desenvolvimento da pessoa são um dos maiores mistérios da natureza. Desde o momento da concepção, inicia-se um processo de mudanças que permanecerá por toda a vida. Uma única célula vai se converter num ser único, diferente de todos os que já existem e existirão. Alguém absolutamente singular que será uma novidade no mundo. Segundo a filósofa Hannah Arendt, cada ser novo no mundo vem como um milagre. 

Não sabemos quem será, não podemos conhecer os potenciais e as características, porém, como genitores, sempre imaginamos e sonhamos. Criamos expectativas e, aos poucos, elaboramos no nosso imaginário a possibilidade de sermos pais, de atuarmos com os filhos, de manifestarmos nosso amor… Enfim, tem início o estabelecimento do primeiro vínculo que aquele pequeno terá no mundo.  

São muitos os processos envolvidos nesse período de gestação: o físico – toda a estrutura corporal vai se formando, órgãos, sistemas, sentidos. Todo esse bom desenvolvimento dependerá dos cuidados que a mãe tiver com sua própria saúde: alimentação, exercícios físicos, sono, não tabagismo nem a ingestão de álcool etc. Nessa etapa da vida, se dá o maior crescimento que a pessoa terá em toda a sua vida e há uma grande influência do ambiente em todo esse desenvolvimento.  

Do ponto de vista cognitivo e sensorial, desenvolvem-se as capacidades de aprender, recordar e responder aos estímulos sensoriais. 

As células gustativas começam a se desenvolver em torno da 14a semana da gestação, a partir da possibilidade de o bebê sugar e engolir o líquido amniótico e as substâncias oriundas do corpo da mãe que o compõe e lhe são transmitidas.

Com 25 semanas, o feto já consegue perceber os sons, a voz da mãe normalmente o acalma (já começa a identificá-la). Percebe diferentes ruídos e sons, pode ser estimulado auditivamente com músicas, conversas, cantos etc.  As respostas ao som, gritos e vibrações do corpo da mãe parecem iniciar na 26ª semana de vida intrauterina e apontam para uma função de sobrevivência pois, ao nascer, quando tem fome, o bebê vira seu rosto na direção em que identifica a voz materna. 

Diante de toda essa realidade biológica, não podemos negar a importância do papel da mãe na vida da criança desde o momento de sua concepção.  

Esse pequeno, além de estar sendo formado a pleno vapor no útero materno, está, também, sendo gestado no imaginário dos pais. Sendo assim, cultivar esse vínculo primário saudável é fundamental para que o pequeno se desenvolva positivamente no aspecto psíquico e afetivo. A aceitação por parte da mãe dessa nova vida, a capacidade de vivenciar cada etapa da gestação com suas transformações e preocupações, cuidando de sua própria saúde física e equilíbrio emocional, cria a possibilidade de assumir de modo saudável o papel de mãe. Leva ao desejo de estabelecer o contato físico com o feto (toques e carícias na barriga), de estabelecer diálogos com o pequeno ainda na vida uterina (diálogos reais, com emissão vocal e diálogos sensitivos), manifestação intensa de sentimentos de alegria, expectativa e amor pelo pequeno em formação. Nesse momento, o papel do pai está associado a tornar a vida da mãe mais saudável, oferecendo o suporte de que ela precisa, do que se relacionar diretamente com o bebê, embora possa conversar com ele, aproximando-se da barriga, tocando-a etc. Ocorre que, para o feto, o vínculo fundamental é a mãe.

Portanto, a maturidade do casal e a percepção da grandeza da vida que depende dele, desde a concepção, contribuirão sobremaneira para que as condições físicas e afetivas para um desenvolvimento saudável da criança aconteçam. O mais importante: muito do que essa criança será no futuro depende das boas condições oferecidas ao seu desenvolvimento físico e afetivo. Vamos investir em oferecer aos filhos, desde o mais tenro início da vida, o melhor de nós!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site: www.simonefuzaro.com.br. Instagram: @sifuzaro.

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