O impacto das telas no QI das novas gerações

No dia 30 de outubro, a BBC Brasil News publicou uma entrevista com o neurocientista Michel Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França e autor do livro “A fábrica de cretinos digitais”, na qual alerta que, pela primeira vez na História, os filhos estão apresentando QI inferior ao dos pais.  

Muitos profissionais das áreas da Educação e Saúde vêm apontando para questões muito evidentes e preocupantes sobre as consequências da relação que as crianças e adolescentes estabelecem com as telas: atraso na aquisição de linguagem, dificuldades de relacionamento social, excesso de agitação, problemas de concentração, dependência dos eletrônicos etc. Ainda não havia sido cogitada, porém, a ideia da diminuição do QI. 

Embora o neurocientista reconheça que o QI é afetado por diversos fatores – entre eles o sistema de saúde, o sistema escolar, a nutrição –, ele chama a atenção para o fato de que em países muito estáveis do ponto de vista socioeconômico, como Noruega, Dinamarca, Finlândia, França e Holanda, os nativos digitais são os primeiros a ter QI inferior ao dos pais. 

O grande problema, segundo ele, é que as crianças, desde muito pequenas, passam diversas horas do dia diante de telas em detrimento de situações interativas e atividades que estimulam de modo muito mais eficiente a arquitetura cerebral, que está em pleno desenvolvimento nos primeiros 3 anos de vida. O cérebro humano não nasce pronto. Ele vai se desenvolvendo a partir dos estímulos que são oferecidos – vão se formando as sinapses, as redes neurais se especializam, caminhos neurais são criados e desfeitos de acordo com as experiências vividas pela criança, ou seja, a plasticidade cerebral é enorme. Essa plasticidade diminui conforme a criança vai crescendo, sendo ainda razoável até o término da adolescência. Depois, podemos dizer que a base foi construída e todas as mudanças que acontecem são mais demoradas e custosas. A plasticidade cerebral não acaba, contudo diminui bastante com o aumento da idade. Quando o uso de telas acontece com prudência, de modo controlado e a partir de uma certa idade, o prejuízo não é tão grande. 

Segundo o pesquisador, “a partir dos 6 anos, se os conteúdos forem adaptados e o sono preservado, o tempo diante da tela pode ser de meia a uma hora por dia, sem uma influência negativa”. Ele também orienta alguns outros cuidados que os pais devem ter: não oferecer telas às crianças pela manhã, antes de irem à escola; que não as acessem antes de ir para a cama; não deve haver telas nos quartos e também devem ser proibidas quando estão com outras pessoas. O relacionamento interpessoal deve ser priorizado. 

Hoje vivemos um mundo povoado de telas, e existe um número infinito de entretenimentos eletrônicos. As crianças ficam absolutamente hipnotizadas por elas e as manuseiam com uma habilidade impressionante, o que é uma grande ajuda para os pais e cuidadores que ganham tempo para seus afazeres pessoais. Acontece que, diante de tamanho prejuízo cognitivo e intelectual, precisamos nos perguntar: É isso que queremos para nossos filhos? Por que nasceram num mundo digital, iremos permitir que tenham seu desenvolvimento prejudicado?

Quando não oferecemos aos pequenos essa possibilidade de “distração”, eles não a terão em seu repertório e aprenderão a se entreter com o que oferecermos – brinquedos pendurados no berço, músicas de qualidade, mordedores, brinquedos de borracha, de encaixe, papéis para pintura, livros, massinha e os mais diversos materiais, de acordo com a fase do desenvolvimento e as circunstâncias da criança. 

Tudo isso dá muito mais trabalho e faz muito mais sujeira, é verdade. No entanto, faz parte de um bom estímulo ao desenvolvimento ajudar os filhos a ganharem a virtude da ordem, e essa pode ser uma excelente oportunidade para isso. 

Se mostramos aos filhos que há uma rotina estabelecida e que o tempo para a utilização das telas é restrito, eles se adaptarão e serão extremamente beneficiados. Assim que compreendam, devem ser orientados sobre os prejuízos, pois dessa forma crescerão na capacidade de cuidar da própria saúde.

Precisamos colocar a mão na massa e trabalhar pelo bom desenvolvimento de nossos pequenos. Coragem, vale a pena!

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br  Instagram: @sifuzaro

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