O relativismo e a cultura do politicamente correto

Quem pensou que este dia não chegaria se enganou redondamente. Estamos imersos num mar de confusões que acaba por causar os mais diferentes efeitos no seio das famílias.

Os perigos que foram alertados sobre o relativismo crescente, infelizmente, hoje se tornaram realidade.

O Cardeal Ratzinger, antes de ser eleito Bispo de Roma, alertava numa homilia sobre o perigo da ditadura do relativismo. Dizia ele que “ter uma fé clara, segundo o Credo da Igreja, é etiquetado com frequência como fundamentalismo. Enquanto que o relativismo, ou seja, o deixar-se levar ‘guiados por qualquer vento de doutrina’, parece ser a única atitude que está na moda. Vai-se construindo uma “ditadura do relativismo”, que não reconhece nada como definitivo e que só deixa como última medida o próprio eu e suas vontades”. (Homilia do dia 18 de abril de 2005).

Daquela ocasião para cá, fomos cada vez mais inseridos na ideologia relativista e nos tornando escravos desse modo de ver e pensar a realidade que despreza completamente a doutrina da lei humana natural e torna verdade aquilo que pensam e sentem as pessoas de modo singular. Em nome da “liberdade”, há o endeusamento das opiniões pessoais e dos sentimentos individuais. Sob a capa de uma liberdade absoluta (que é absolutamente impossível), esconde-se a mais terrível das tiranias – que nos impede de viver os nossos valores cristãos ou mesmo os valores que racionalmente identificamos como relativos à dignidade natural do homem.

Nessa confusão ideológica, nós nos encontramos e nos surpreendemos diariamente com conteúdos a que nossos filhos são expostos nos livros escolares, nos programas de TV, nas séries e redes sociais. Aliás, se não nos mantivermos atentos e vigilantes, também nós acabamos nos contaminando com as ideias de liberdade, conforto e prazer que tanto impregnam a narrativa social.

Por isso, hoje se torna tão mais difícil o processo educativo dos filhos: se antes tínhamos uma sociedade mais comprometida com valores morais só- lidos e coerentes com o direito natural, hoje temos uma sociedade em parte perdida e confusa – sem clareza alguma do significado de todo esse movimento que acontece e aonde ele pode nos levar e, em parte, absolutamente comprometida com a destruição da família, da religião e de tudo aquilo que diz respeito às leis morais válidas para todos os homens.

Aumenta nossa responsabilidade. Nós, pais, precisamos nos formar, nos informar e nos capacitar com determinação para podermos identificar esse mal que vai entrando em nossos lares e na mente de todos nós, especialmente dos pequenos que ainda estão em formação, e vai causando estragos irreparáveis.

É preciso acompanhar de perto o que ensinam nas escolas, o que se apresenta nos desenhos e programas infantis e, mais do que nunca, nos comprometermos com a boa formação dos nossos filhos. Lutarmos pelo que acreditamos sem ceder ao politicamente correto. Não nos enganemos: o relativismo não traz liberdade, ao contrário, nos escraviza.

Encerro com uma citação do Papa Bento XVI: “A lei natural torna-se a verdadeira garantia oferecida a cada um para viver livre e respeitado na sua dignidade, e defendido de todas as manipulações ideológicas e de todo o arbítrio e abuso da parte dos mais fortes. Ninguém poderá subtrair-se a este apelo. Se, por um trágico obscurecimento da consciência coletiva, o ceticismo e o relativismo ético chegassem a apagar os princípios fundamentais da lei moral natural, o próprio ordenamento democrático seria radicalmente ferido nos seus alicerces. Contra este obscurecimento, que é crise da civilização humana, ainda antes que cristã, é preciso mobilizar todas as consciências dos homens de boa vontade, leigos ou também pertencentes a religiões distintas do Cristianismo, para que em conjunto e de modo eficaz se empenhem em criar, na cultura e na sociedade civil e política, as condições necessárias para uma plena consciência do valor inalienável da lei moral natural.” (Discurso aos membros da Comissão Teológica Internacional, em 5 de outubro de 2007).

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