O uso excessivo de telas e eletrônicos e seus impactos no desenvolvimento e aprendizagem

No último dia 12, foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo a lei que proíbe o uso de celulares e dispositivos eletrônicos com acesso a internet nas escolas públicas e particulares de São Paulo.

Com a ascensão rápida e acessível dos dispositivos eletrônicos nas últimas décadas, a sociedade foi naturalizando o seu uso para todos, inclusive crianças. Muitas dificuldades dos pais, como manterem as crianças em silêncio durante as viagens ou nos momentos em que estavam realizando alguma atividade profissional ou mesmo de organização da casa foram absolutamente sanadas pelo incrível feitiço que as telas exercem sobre os pequenos. Os pais, sem muitas informações a respeito, foram encontrando nesses dispositivos verdadeiros aliados, inclusive para estimular as crianças, já que se passou a divulgar uma série de programas educativos, vídeos e desenhos que prometiam estimular a aprendizagem infantil. As escolas, rapidamente, implementaram laboratórios de informática, depois uso de tablets e notebooks individuais, tendo em vista a necessidade de modernizar os processos educativos, e em um curto período esses recursos foram absorvidos pelas escolas. 

Na medida em que os efeitos adversos começaram a ser observados nas crianças e adolescentes muitos estudos foram desenvolvidos. Hoje sabemos que o uso de eletrônicos, especialmente conectados à internet, são absolutamente nocivos ao desenvolvimento infantil e impactam negativamente em diversos aspectos que implicam no processo de aprendizagem. 

Crianças expostas a telas desde pequenas apresentam um atraso no processo de aquisição de linguagem, costumam ser mais agitadas e terem um desenvolvimento cognitivo pobre, na medida em que substituem tempo de exploração e brincadeira, por tempo de telas, diante das quais assumem uma postura completamente passiva. Crianças precisam de movimento, estímulos e interações pessoais para terem um desenvolvimento adequado e, o uso excessivo de telas vem proporcionando às crianças uma infância muito mais apática e sedentária. 

Entre outros prejuízos, encontramos os distúrbios de sono, na medida que a exposição a uma quantidade excessiva de estímulos visuais e auditivos causa um estado excitativo que dificulta o sono de qualidade. O número de crianças desatentas, com dificuldade de envolver-se em atividades que exijam foco, irritadiças, ansiosas e dependentes cresce assustadoramente, levando pais e profissionais da saúde e da educação a um estado de alerta. 

Por estarem em fase de pleno desenvolvimento cerebral, cognitivo e emocional, as crianças rapidamente se tornam dependentes do uso de eletrônicos, jogos e redes sociais, afinal, com o córtex pré-frontal ainda incipiente, tendem a ter maior atração ao prazer e este é excessivamente presente na medida que cargas de dopamina são promovidas em abundância através dos eletrônicos.

Mesmo que escolas se proponham a manter um controle de rede para que os alunos somente tenham acesso ao conteúdo que é oferecido para o processo de aprendizagem escolar, as crianças e adolescentes conseguem burlar as proteções de rede e acessar, dentro do ambiente escolar, conteúdos inadequados – sites e jogos – e acabam dispersando, perdendo aulas e criando situações complicadas dentro da escola. 

O psicólogo social Jonathan Haidt (autor do livro “A geração ansiosa”), a partir do levantamento de vários estudos a respeito do assunto, propõe uma mudança urgente e radical para reverter os prejuízos causados pelos eletrônicos: ele sugere que somente após os 16 anos os adolescentes tivessem acesso aos smartphones e redes sociais. Seria essa uma solução factível?

É evidente que muitos ganhos foram alcançados com o advento dos eletrônicos, da internet e até mesmo das redes sociais. No entanto, também é óbvio que estamos deixando um instrumento afiado e perigoso nas mãos de pessoas ainda despreparadas para usá-lo e, com isso, os prejuízos estão maiores do que os benefícios. É momento de repensarmos, revermos e realinharmos a rota para que possamos resgatar a saúde física, afetiva e social das nossas crianças e jovens. Acredito que essa lei possa ser um primeiro passo nessa direção. 

Mas, sem dúvida nenhuma, pais precisam se conscientizar e assumir com responsabilidade o controle sobre o uso dos eletrônicos em suas casas. Pais sem autoridade acabam não ajudando os filhos nesse processo e abandonam suas crianças aos seus impulsos imaturos. A isso chamo negligência. 

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