Existem alguns costumes familiares que com o tempo foram questionados e abandonados. Certamente, muitos foram deixados de lado por fatores justificáveis: novos conhecimentos sobre o desenvolvimento infantil, perspectivas diferentes no relacionamento conjugal e na realidade da família; outros, no entanto, por movimentos inovadores impensados, pela crença moderna de que romper com o que aponta para “tradições” ou pouca “espontaneidade” no relacionamento precisava ser revisto e inovado.
Um desses costumes abandonados foi o de o casal, mesmo em assuntos ainda não acordados anteriormente, procurar transmitir aos filhos uma orientação única. Eu explico melhor: era meio que um acordo tácito entre pai e mãe a ideia de que ambos precisavam dar ao filho a mesma orientação quando surgisse um questionamento: desde o mais simples até àqueles um pouco mais complexos. Os pais criavam estratégias para que a criança percebesse que eles iriam definir a resposta em conjunto. Desde o famoso: “Você já perguntou para o papai? O que ele disse?”; Até: “Espere um pouco, vou falar com a mamãe e já resolvemos isso”.
Hoje, em nome da “liberdade”, da espontaneidade que mostra para a criança com naturalidade e desde cedo que pessoas pensam de modo diferente e tudo bem; da dificuldade de ouvir opiniões e entrar em acordos, enfim, de tantos egoísmos que podemos nomear de diferentes modos, é muito comum que as crianças encontrem nos pais orientações diferentes em coisas bastante corriqueiras.
É verdade que em muitos aspectos pai e mãe pensam de modo diferente: o que para um é mais perigoso, para o outro é um rico desafio; o que para um é uma experiência importante, para o outro pode ser algo um tanto estranho; o que para um é uma atitude natural de criança, para o outro se trata de malcriação… enfim, isso é real e excelente. É uma grande oportunidade de conversarem, refletirem, apresentarem argumentos um ao outro e, com isso, irem “afinando” não somente o discurso como também os valores familiares. Conversar é preciso para que se possa educar bem os filhos. Conversar não significa necessariamente entrar num consenso. No entanto, é preciso que ambos se abram para a opinião alheia e que, quando não conseguirem encontrar um termo razoável entre as diferentes opiniões, que um renuncie à sua e decida confiar que a do outro pode ser uma alternativa boa. Nesse momento, a decisão é: “essa agora passa a ser a nossa aposta”. Essa unidade, essa confiança mútua, a capacidade de apostar no outro, lembrando que todos podemos falhar, mas que certamente estamos buscando o melhor para os filhos, oferece à criança uma segurança fundamental.
Entendam uma coisa: nunca uma pessoa está certa em tudo o que pensa, imagina ou propõe. No entanto, quando essas diferenças de perspectiva são apresentadas aos filhos desde muito pequenos, certamente os pais estarão cometendo um equívoco que trará consequências negativas para a formação dos pequenos. Muitas vezes, sem perceberem, os pais se desautorizam, apontam para direções diferentes, confundindo os pequenos, criando inseguranças, irritações e possibilitando que eles aprendam a “manipular” a situação – o que em si é uma manifestação de fragilidade, ao contrário do que parece. A criança que não obedece, que enfrenta, que explora esse espaço que encontra entre a orientação dos pais, muito diferente do que aparenta, está perdida, mal orientada e manifesta isso com o mau comportamento.
Pais, olhem com coragem para dentro de vocês e decidam pelo verdadeiro bem de seus filhos. Mais importante do que lutar pela sua própria opinião ou dizer com espontaneidade (talvez impulsividade) o que pensam, está a segurança que eles precisam para crescer com harmonia. Com o tempo e no tempo correto, certamente tomarão contato com o modo de pensar de cada um, compreenderão que existem diferenças e saberão valorizá-las. Tudo, porém, tem seu tempo e, a cada etapa da vida, precisamos oferecer o cuidado necessário aos filhos.