Os perigos do relativismo na formação das crianças

Diante da atual situação política do País e as tendências que, a partir dela, voltam a ganhar força e repercussão, acredito ser importante colocar certa luz nos impactos que podem causar na vida de família e na formação dos filhos. 

O ato de formar uma pessoa pressupõe, necessariamente, a transmissão de valores que estruturarão o caráter dela. Com ou sem total consciência disso, os pais estão o tempo todo transmitindo valores, oferecendo proporções e critérios aos filhos. Quando permitem ou negam algo, quando exigem ou negligenciam determinada atitude, quando escolhem uma escola, um livro, enfim, a cada decisão que tomam nesse processo, estão informando aos pequenos sobre como pensam a vida e o que esperam deles nessa aventura de viver. 

Ocorre que há muito estamos vivendo uma crescente onda de relativismo que acaba por nos deslocar sem que tomemos muita consciência disso. Aos poucos, introduzem-se em nosso imaginário ideias que vão questionando algumas premissas antes inquestionáveis em nossa história, como por exemplo: a existência de Deus (afinal, se não há comprovação científica disso, como tomar como verdade?).  O fato, esse sim, observável a olhos nus, de que existe homem e mulher marcados geneticamente e dotados de características físicas diferentes facilmente identificadas, o fato de que existe verdade e mentira independentemente da opinião de quem observa o acontecimento, o fato de que valores morais são bens da humanidade e que promovem um convívio mais harmonioso e justo, enfim, vamos aos poucos entrando num movimento de questionar todo e qualquer fato e relativizar seu valor.

Ganha ares de modernidade e intelectualidade a capacidade de questionar tudo o que em algum momento histórico anterior tenha sido considerado bom, belo e verdadeiro. O bom depende da referência e de quem será “beneficiado”, o belo precisa ser explicado para poder ser contemplado e, às vezes, nem mesmo bem explicado pode ser contemplado, mas tudo bem afinal, o que é belo? A verdade, então, nem se fala… totalmente relativizada, diria até desacreditada e transformada – vale o que cada um traz em seu discurso como verdade e não aquilo que se depreende do fato em si. Quando alguém se sente um cachorro pode se manifestar latindo, por exemplo, independentemente de ao olharmos para aquele que late, não identificarmos nele nenhum traço ou característica diferente daquelas com as quais somente os seres humanos são dotados. 

Reina no relativismo o desejo, o mundo afetivo de cada um e suas necessidades mais primitivas. Ao desestabilizar valores que nortearam por séculos a vida humana e as relações sociais, se desestabiliza toda a sociedade e se torna muito mais fácil manipular as massas. Há algo de diabólico em todo esse relativismo reinante, afinal, nele se encontra o gérmen de destruição da família, da língua, das relações em geral. 

O homem, “na tentativa de viver a liberdade, acaba desistindo da verdade em si quando se torna prisioneiro dos seus próprios métodos de observação tão característicos da ciência moderna. No fundo, o homem já não consegue mais enxergar além, mas se limita ao aquém, alimentando seu pragmatismo e egoísmo, características tão marcantes atualmente.  Para Ratzinger (2008, p. 24), “o homem move-se ainda e tão-só na sua própria concha”.

Tendo em vista essa realidade do relativismo que vem ditando normas na sociedade em nome de uma “democracia” estranha, as famílias precisam revisitar e fortalecer seus valores e convicções, buscarem na literatura confiável (os clássicos, os documentos da Igreja) argumentos e fundamentos para aquilo que acreditam ser o melhor na formação dos filhos e, corajosamente, lutar contra o império do relativismo antes que ele coloque por chão aquilo que conhecemos como verdade.  

Segundo nos aponta sabiamente o saudoso Papa Bento XVI, “na realidade, há hoje uma hipertrofia do homem exterior e um grave enfraquecimento da sua força interior” (RATZINGER, 2007, p. 147). Sendo assim, resta-nos retomar nossa força interior, encontrar a convicção necessária para defender nossos valores e lutar para deixar aos nossos filhos a maior e mais importante herança que podemos: a capacidade de identificarem a Verdade e buscá-la de todo o coração, afinal, nós, cristãos católicos, sabemos, a Verdade  é uma pessoa e nela encontramos o verdadeiro sentido de uma existência que vale a pena. 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro

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