Quais lições podemos aprender da vida de Silvio Santos?

Não é verdade que nos encanta conhecer histórias reais, que inspiram, que mostram a luta de pessoas para deixar um legado? Não é verdade que olhando para gerações passadas, encontramos grandes exemplos de determinação, de liderança, de resiliência, quando nada disso era tão teorizado?

Pessoas que foram forjadas na luta diária, na necessidade imposta por uma vida que não era fácil, pessoas que desde cedo precisaram “correr atrás” dos meios de sobrevivência, enfim, pessoas que tiraram da realidade força para superar barreiras e criar caminhos. 

A morte de Silvio Santos, me faz pensar no quanto nós, pessoas, somos potentes, somos grandes e o quanto, hoje em dia, nos apequenamos com sentimentalismos excessivos, com melindres. O pior: o quanto estamos deixando que essa mentalidade marque a educação das novas gerações, que estão vindo mais vitimistas, mais ingratas, acreditando que o mundo está a seu serviço e não o contrário.

Recordo-me de uma entrevista dele, na qual comentava que na sua empresa suas filhas não tinham privilégios em relação aos demais funcionários. Exemplificou com o fato de que, como todos os outros, não tinham lugar reservado no estacionamento, precisavam procurar vaga como os demais. Acreditava que facilitar a vida dos filhos e conceder-lhes privilégios gratuitos, não os ajudava a aprenderem o valor da conquista, do empenho. E disso ele entendia – um rápido passar de olhos sobre sua história de vida, nos mostra o quanto esse homem foi determinado, o quanto se envolveu com o bem das pessoas, o quanto soube plantar valores e o grande legado que deixou por aqui. Quem de nós não se lembra de sua voz, suas risadas, sua alegria e seu coração grande, que se alegrava com o benefício que oferecia aos mais simples? Todos sabemos de alguém que ele ajudou, de uma das inúmeras histórias que contam quem trabalha ou trabalhou em suas empresas. Homem de coração grande, sabia amar – sabia servir.

Olhando para tudo isso, me pergunto: o que acontece com os pais modernos? Onde está a nossa capacidade de olhar para a realidade que nos rodeia e aprender com ela? Por que tudo precisa ser comprovado por pesquisas, estudos científicos e dados? Sabemos o quanto as pesquisas podem ser forjadas, o quanto resultados dependem do ponto de vista do pesquisador, o quanto, infelizmente, convém a muitos que sejamos pequenos, fracos, vitimistas, imaturos. 

Hoje os pais se preocupam excessivamente com não traumatizar (como se tudo e qualquer coisa traumatizasse as crianças), com serem gentis em todas as condutas, com acolherem todos os sentimentos e desejos infantis e não percebem, olhando no entorno, o quão fracas as gerações estão se tornando. 

Que ideal de perfeição é esse e que bem ele pode nos trazer? Será que mais importante do que ficarmos paralisados, tentando ser perfeitos (o que é humanamente impossível), não precisamos ensinar a nossos filhos que os amamos apesar de nossas limitações e que a vida é o exercício de superação e perdão? Que precisamos ser gratos aos outros, apesar dos erros que cometem, apesar das incompreensões que sofremos, afinal, em alguma instância todos também erraremos, todos não compreenderemos algo ou alguém e essa é a dinâmica da vida?

Formar pessoas capazes de deixarem marcas de bem neste mundo, de construírem um legado, exige que forjemos em nós e nos que nos foram confiados, um caráter forte – assentado em valores morais claros e bem definidos, pessoas que saibam superar as adversidades e perdoar quando os erros acontecerem. 

Sim, é possível. Olho para pessoas como Silvio Santos, como meu próprio pai (Wilian), que também já falecido, e tenho certeza: souberam tirar dos erros e limitações de seus pais, da vida, das circunstâncias, possibilidades de superação. Foram gratos ao que receberam e honraram com sua trajetória o dom que receberam de Deus por meio de seus pais.

Que nós, pais modernos, nos inspiremos em pessoas e histórias reais, muito mais do que em teorias modernas e pesquisas estranhas, para formar pessoas fortes e resilientes. Que tenham clareza de que aqui temos uma missão, que não estamos aqui a passeio e que, muito menos, somos o centro do mundo. Não estamos aqui para sermos servidos e sim para servir.

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