Sobre a incapacidade crescente de uma vida realmente adulta

Frequentemente, eu apresento aqui minhas preocupações em relação aos adultos que estamos formando nas últimas décadas. É nítida a dificuldade que aqueles das gerações Y e Z estão encontrando para assumir uma vida realmente adulta e madura.

Muitas vezes, trago algumas reflexões sobre o efeito nefasto que o sentimentalismo vigente promove no processo de amadurecimento das pessoas. Nas últimas décadas, estamos sendo estimulados a prender as crianças no campo dos sentimentos, cultivando os positivos e negando de qualquer maneira os negativos. Vamos formando pessoas que estão com grande dificuldade no processo de amadurecimento. 

Uma vida adulta e madura pressupõe a capacidade de cuidar de si mesmo e dos demais, pressupõe fazer um movimento de sair do centro da própria existência e viver servindo ao bem comum. A pessoa madura, apesar de suas tendências e emoções, está apta a fazer escolhas sensatas e responsáveis – que demonstram uma capacidade de comprometimento grande com aqueles que dela dependem. 

Essas habilidades tornam as pessoas capazes de trabalhar e se engajar nos propósitos profissionais que trazem benefícios ao entorno; tornam-nas capazes de formarem família e terem filhos, assumindo com responsabilidade as dificuldades dessa missão; enfim, pessoas maduras são aquelas que têm domínio de si e conseguem se doar quando necessário de modo livre e lúcido. 

Estão cada vez mais raros esses espécimes, infelizmente.  Hoje em dia, o que mais se estimula são pessoas sentimentalistas, comprometidas com suas próprias necessidades e manifestações afetivas em vez de pensarem naqueles que delas dependem. Há um verdadeiro reinado do desejo: se me sinto triste, desabo e sou reconhecido por ter coragem de desabar; se me sinto irado, grito, xingo e desrespeito os demais sem me preocupar com nada (especialmente no mundo virtual, em que todos ganham coragem adicional para manifestações desrespeitosas); e se me sinto bem sendo um bebê, pasmem: chego em casa do trabalho e coloco fraldas, pego minha chupeta e me comporto como tal. Simples assim. 

Isso já acontece há alguns anos, mas em minhas frequentes palestras, percebo que poucos têm conhecimento dessa realidade. Portanto, decidi aqui alertar sobre mais essa triste “doença” moderna: a incapacidade de assumir por completo a vida adulta. Trata-se dos “Amantes Adultos de Fraldas de Bebês (ABDL, na sigla em inglês)”, conforme apresentado em reportagem do portal UOL, na qual se explica ser “um grupo de homens e mulheres que acredita que a vida adulta é opcional. Eles vivem como bebês para relaxar do dia a dia estressante…”.

Sim: adultos de 20 a 30 e tantos anos que, além de se portarem como bebês, tem comunidades no Tik Tok, Instagram, contam com cuidadores, com lojas de artigos apropriados, afinal, adaptar objetos infantis para adultos requer todo um processo de fabricação e comércio especializado. Na loja se encontra berços, cavalinhos, fraldas, bodys, enfim, uma quantidade de produtos que impacta aqueles que vivem alienados desta triste realidade (@tykables). 

Com esse alerta, meu objetivo é chamar a atenção de cada um dos pais e mães que leem aquilo que escrevo e que me acompanham em meu trabalho: cuidado, formem-se de verdade, identifiquem valores sólidos que querem transmitir a seus filhos e não esqueçam: a vida exige fortaleza. Sermos pessoas que têm sentimentos, afetos, é um dom maravilhoso. No entanto, sermos escravos deles é um verdadeiro desastre, é um empobrecimento. Somos mais do que isso: somos feitos à semelhança de Deus, temos capacidade intelectual, temos como educar nossa vontade para atingir bens superiores. Como podemos deixar que essas manifestações tão bizarras aconteçam com tanta naturalidade? 

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Pedro Jacob
Pedro Jacob
7 dias atrás

Perfeito