‘Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo’

Segundo São Mateus, Jesus começou a sua pregação com estas palavras. Delas se pode deduzir que somos pecadores necessitados de uma profunda mudança interior e exterior. 

A mudança exterior consiste em adequarmos o modo de agir e de falar aos Mandamentos de Deus. A comunhão com o Senhor somente é possível mediante uma contínua retificação do caminho: “Deixai o mal e aprendei a fazer o bem” (Is 1,16). Não à toa, no Antigo Testamento, a palavra comumente utilizada para designar a conversão – shûv –  quer dizer literalmente “retornar”. “Voltar” para Deus e para seus caminhos significa praticar boas obras. 

Essa mudança nas ações deve vir acompanhada de uma concomitante mudança interior. A fé verdadeira muda radicalmente a conduta, pois ilumina o modo de ver toda a realidade. Quem se abre à luz da fé tem as suas preferências, afetos e convicções modificados. A fé leva ao reconhecimento sincero dos pecados e a um arrependimento confiante de cada um deles. Ela torna-se atuante por meio da virtude da caridade, que nos move a evitar o mal e a praticar o bem. Tudo isso é obra de Deus, que, com a nossa cooperação, realiza uma mudança interna desde a raiz!

Por isso, ao nos exortar – “convertei-vos” (Mt 4,17) -, Jesus utiliza a expressão metanoeite ou, literalmente, “mudai de mentalidade”! A conversão não somente nos leva a nos dizer “pecadores” genericamente e da boca para fora. A presença do Espírito Santo em nós nos permite reconhecer especificamente quais são os nossos pecados, doer-nos por eles, detestá-los e mudar de vida! A conversão leva-nos a detestar o mal que antes amávamos; e a amar coisas boas e pessoas que antes detestávamos. Aquele a quem Deus concede essa mudança de mentalidade passa a ver a Deus, ao mundo, a si mesmo e aos demais com novos olhos.    

Deus realiza essas maravilhas na vida de pessoas comuns e de grandes santos. São Paulo deixou de perseguir a Cristo e à Igreja ao cair na estrada de Damasco. Santo Inácio abandonou o desejo de glórias militares e se decidiu a buscar a glória de Deus depois de ler a Vida dos Santos. O rico Afonso Ratisbona caiu de joelhos, converteu-se do judaísmo e se tornou sacerdote, depois de ver Nossa Senhora em Roma. Diariamente, nos confessionários pelo mundo, pessoas comuns deixam de lado o ateísmo, a indiferença, as seitas e a confusão do mundo para receberem a fé, a esperança e a caridade. Trata-se de um milagre e um presente do alto: a mudança exterior a que tanto almejamos somente é possível por meio de uma mudança interior que pode ser realizada somente por Deus.

Diante disso, pensemos… Cremos realmente que é possível sermos santos? Cremos que é possível abandonarmos de vez os nossos principais pecados? Queremos isso de verdade? Cremos no perdão e no auxílio que Deus concede pela Confissão? Cremos que o mesmo Senhor que nos pede uma vida santa nos assegura os meios necessários para isso? Ele diz: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo!”. 

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