Sei que estamos vivendo tempos complicados no que diz respeito às necessidades de trabalho e o ritmo que o trabalho profissional assume. Que temos diferentes realidades familiares: mães solteiras, pais separados, famílias que dependem da renda de ambos para sobreviver, mães que têm a renda maior na casa, enfim… inúmeras são as realidades, as circunstâncias e as necessidades.
Dito isso, entro agora no assunto em questão: muitos dizem que não importa a quantidade do tempo que os pais convivam com os filhos, mas, sim, a qualidade desse tempo e eu, juntamente com outros tantos profissionais que vêm acompanhando o movimento das famílias e o desenvolvimento das crianças nos últimos anos, insistimos em dizer: sem um mínimo de quantidade não é possível qualidade.
Explico-me: a qualidade do convívio em qualquer tipo de relação depende do conhecimento que se tem do outro e da possibilidade de oferecer-lhe aquilo que ele precisa de mim. Uma criança está em um processo de transformação acelerado. Suas características, suas habilidades, capacidades mudam e crescem cotidianamente. Isso significa que as necessidades são diferentes e as manifestações variam muito, sempre. Pais que se dedicam a ficar com os filhos pouco tempo não conseguem conhecê-los suficientemente para oferecer-lhes o que realmente necessitam. Outro aspecto importante é que no convívio os afetos ganham intensidade, sentido e se manifestam. Com tempo reduzido de convívio, as relações afetivas entre pais e filhos ficam complicadas, muitas vezes, disfuncionais. Os filhos são formados na relação com os pais, ou com os adultos que com eles conviverem. É na relação que se forja o caráter, que se educa o temperamento, que se prepara o filho para a vida. Isso não significa que seja necessária dedicação integral aos filhos, que os pais, ou ao menos as mães, não possam trabalhar fora, absolutamente. Aliás, tão nocivo quanto o pouco tempo dedicado ao convívio por excesso de trabalho, é o pouco tempo dedicado ao convívio por aquelas mães que ficam o dia todo em casa, mas que não convivem com os filhos do mesmo modo, deixando-os, muitas vezes, diante das telas ou ao cuidado de outrem.
O objetivo dessas informações é ajudar os pais a tomarem decisões prudentes, conscientes e especialmente para criarem momentos maiores de convívio dentro das nossas circunstâncias. Em outras palavras: oferecer o melhor possível, o nosso melhor, sem nos conformarmos com a realidade da ausência, como se ela não fosse impactar o resultado da formação integral dos filhos.
Assusto-me ao perceber o quanto estamos vivendo um mundo de ilusões, pois, apontar para essa realidade, para o fato de que é necessário termos um tempo maior de convívio com os filhos, promove em grande parte dos pais um nível de irritação grande e uma reação irracional: para que trazer aos meios de comunicação esse tipo de orientação? Para gerar culpa em quem não pode dedicar mais tempo aos filhos? CLARO QUE NÃO.
O objetivo é conscientizar para que as pessoas, conhecendo essa realidade, busquem soluções criativas e mais adequadas à essa questão. De onde brota a ideia de que, se ninguém apontar para essa realidade, ela deixa de existir? Quer dizer que é preferível ignorar os fatos para agir confortavelmente e sem culpa mesmo que as consequências sejam graves?
Pais, ter filhos foi uma opção, e feita essa opção, criá-los com responsabilidade é missão. Missão que requer coragem de olhar para as necessidades e implicações que ela traz e enfrentá-las da melhor maneira possível.
Identificar prioridades, perceber que a chegada dos filhos muda radicalmente a vida da família e assumir essas pequenas e preciosas vidas como missão é um passo que nunca trará arrependimento. Portanto, não se enganem – somente a verdade liberta.
Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o site www.simonefuzaro.com.br. Instagram:@sifuzaro