Corpus Christi: a Igreja a caminho com Jesus

A celebração da solenidade de Corpus Christi nos faz compreender melhor o que é a Igreja. Quando nos chama a sermos “Igreja sinodal”, o Papa Francisco aponta para a essência da natureza da Igreja. Na bela e profunda definição que o Concílio Vaticano II recolheu dos Padres da Igreja, “o povo reunido na unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Lumen gentium, LG, 4), o povo de Deus, que Jesus Cristo reúne mediante o anúncio do Evangelho e a ação do Espírito Santo.

Em torno do altar da Eucaristia, reúne-se a diversidade da família humana, sem distinção nem discriminação alguma, unidos todos na mesma fé, esperança e caridade. É um povo de pecadores, mas redimi- do pelo sangue de Cristo, que acolhe o apelo ao arrependimento e à conversão e procura caminhar nas vias da santidade. A comunidade eucarística é o povo reunido em torno do seu Senhor e Mestre, representado visivelmente de diversos modos: no altar, no Sacramento da Eucaristia, no Ministro sagrado, na própria comunidade reunida em seu nome. Por isso, a participação presencial da celebração eucarística é tão importante, pois nessa participação há um valor testemunhal e sacramental de grande significado. É mais que uma devoção privada: é voz e ação da comunidade de fé, presidida pelo próprio Cristo – Sacerdote e Senhor da Igreja.

A Igreja é o povo convocado e reunido pela palavra de Deus, que desperta, educa e alimenta a fé. A palavra de Deus tem a força do Espírito Santo, que age em quem escuta e acolhe a “palavra da salvação”. Por esse motivo, a liturgia da palavra, na celebração da Eucaristia, tem um espaço de grande relevância. O Cristo que convoca e reúne os discípulos ao seu redor também continua a instruir, confortar, admoestar, encorajar e enviar sua Igreja. Quando ela proclama e acolhe a palavra de Deus com fé, é Cristo que continua a proclamar sua palavra e o Espírito Santo age no coração de quem acolhe a palavra com fé. Podemos e devemos ler a palavra de Deus em privado; mas a proclamação e acolhida da palavra de Deus na comunidade de fé, reunida em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tem significado e valor muito especial.

A proclamação da Palavra leva a despertar a fé e a renovar a profissão de fé com toda a Igreja. Não cremos sozinhos, nem apenas de maneira individual e subjetiva: cremos com a Igreja e como a Igreja crê. Essa é uma forma importante de manifestar a comunhão com a Igreja. As “preces” que seguem recolhem as intenções mais destacadas da comunidade e a preparam para o momento da grande prece, a Oração Eucarística, que é oração sacerdotal, por excelência. Na pessoa do ministro– sacerdote, que preside a Eucaristia, é Cristo – sumo e eterno Sacerdote, que eleva ao Pai a adoração, o louvor, a ação de graças e as diversas súplicas, acompanhadas pela comunidade celebrante. Esta é povo sacerdotal, que se une ao grande Sacerdote e Pontífice, que a representa diante de Deus Pai e intercede por nós sem cessar.

No rito da comunhão eucarística, aproximamo-nos da mesa do Senhor, unindo-nos sacramentalmente a Jesus Cristo, que se faz para nós pão e alimento para o caminho, companhia, consolo, vínculo de unidade e força para o amor fraterno. Cada participante da celebração eucarística, com a comunidade inteira, une-se a Cristo por um vínculo sobrenatural e vital, participando de sua vida e das promessas do Evangelho. Somos, em Cristo, um só corpo bem unido, um só povo de irmãos e irmãs, que recebe a missão comum de caminhar com Ele vida afora, sendo suas testemunhas. A Eucaristia sempre nos envia novamente em missão.

Na festa de Corpus   Christi, acrescenta-se a tudo isso mais um elemento ritual bonito e bem significativo: levamos o Santíssimo Sacramento para as praças e ruas da cidade, manifestamos publicamente nossa condição de povo de Deus e de testemunhas de Jesus Cristo. O povo que caminha com Ele e o anuncia também vai encontrá-lo nos irmãos nas muitas situações de sofrimento e dor, levando-lhes conforto, cura e salvação.

A procissão de Corpus Christi, com seu colorido e sua variedade de participantes, lembra o povo que caminhava com Jesus durante sua vida pública. Alguns já eram discípulos; outros, nem tanto; outros se aproximavam dele para lhe expressar suas angústias, sofrimentos e pedidos. A Igreja é esse povo que Deus ama. É Jesus, rodeado por seus discípulos, povo de Deus a caminho, que proclama e testemunha o amor misericordioso de Deus na cidade.

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