Creio na Igreja santa

Entre as qualidades da Igreja de Jesus Cristo está a santidade. Afirmar isso faz parte da nossa profissão de fé cristã: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. À primeira vista, afirmar isso pode até parecer surpreendente, chocante e exagerado, pois ouvimos constantemente falar dos defeitos e pecados da Igreja, dos seus malfeitos ao longo da história e do chamado à conversão dirigido a ela, como também fez repetidas vezes o Papa Francisco. Que entendemos, pois, quando afirmamos que a Igreja é santa?

Comecemos por recordar que a Igreja não é feita apenas de pessoas humanas frágeis, falíveis e pecadoras. Ela é uma realidade divino-humana, que teve sua origem no envio do Filho Eterno ao mundo por Deus Pai, com a missão de reunir a grande família de Deus, que estava dispersa. A Igreja teve origem da convocação da humanidade pela Palavra de Deus, proclamada pelo Filho, na força do Espírito Santo. Ela não nasce de um pacto social, mas da graça de Deus e da resposta humana de fé, dada à  palavra de Deus. Por sua origem, força vivificante e dinâmica e pela sua meta final, a Igreja é absolutamente santa. A motivação de sua origem e existência não é má nem desonesta; ela não existe para uma finalidade condenável, muito pelo contrário! Por esse lado, a Igreja é, portanto, o “povo santo de Deus”, chamado a viver vida santa.

A Igreja também é santa pelos meios de santificação que ela possui, por vontade e graça de Deus, sobretudo a Palavra de Deus e os sacramentos. Ela é santa nos seus muitos Santos e Santas do céu, que praticaram as virtudes humanas e cristãs em grau excelso. Eles já estão confirmados em santidade e fazem parte da Igreja celeste, para a qual estamos encaminhados todos nós também. Eles são estímulo e exemplo para os membros da Igreja que continuam a peregrinar neste mundo entre fraquezas, angústias, sofrimentos, esforços e lutas, buscando ter parte na santidade e na glória de Deus e na companhia dos Santos e Santas, na “Jerusalém celeste”.

Isso posto, podemos admitir que a Igreja também é pecadora? Sem dúvida, sim, porque nós, seus membros peregrinantes, somos pecadores. Ela não deixa de ser santa, mesmo tendo homens e mulheres pecadores entre seus membros. Lembremos que Jesus  não veio chamar apenas os santos a fazerem parte da Igreja, mas também os pecadores, para que se convertam e também se tornem santos. A Igreja é divina, mas também humana, formada por nós, pecadores e pessoas ainda não confirmadas em santidade. Mas o grande chamado, feito a todos os membros, é a santidade.

Infelizmente, os pecados dos membros da Igreja desonram e causam dano à Igreja de Cristo. Os escândalos e pecados dos filhos da Igreja, no passado e no presente, expõem ao descrédito e à vergonha a Igreja santa e dificultam a aceitação da Boa Notícia da salvação, que a Igreja anuncia e testemunha a todos os homens. Por isso, a mesma Igreja “santa” é chamada à contínua conversão, para ser configurada mais e mais à imagem Daquele que é o único verdadeiramente Santo. Por isso, nesta vida nunca devemos esquecer que, embora membros da Igreja santa, nós ainda não estamos confirmados em santidade e podemos até ser condenados a não ter parte com ela para sempre, se continuarmos nos nossos pecados. Enquanto vivem neste mundo, os filhos da Igreja precisam arrepender-se com frequência dos seus pecados, implorar com sincera humildade o perdão restaurador de Deus e crescer nas virtudes humanas e cristãs. A vida cristã deve ser um testemunho luminoso da santidade de Deus e da Igreja santa.

Nenhum dos membros da Igreja, neste mundo, pode ter a pretensão soberba de já estar confirmado em santidade. Achar-se “acima do bem e do mal” e apontar o dedo contra os pecadores seria uma atitude soberba e hipócrita. Ninguém está seguro de que, amanhã, a tentação e o pecado também possam derrubar quem já vive a virtude em alto grau. Os verdadeiros Santos sempre foram humildes e se consideravam grandes pecadores. Faziam penitência e se exercitavam nas virtudes, sobretudo na caridade e na oração. A falsa santidade e a soberba são detestáveis aos olhos de Deus e dos homens.

A Igreja é um mistério de pecado e graça. Mais graça que pecado, ainda bem! E a graça, finalmente, triunfará sobre o pecado. Jesus não chamou aqueles que já são santos, mas chama a todos ao seu seguimento para fazerem parte da família de Deus e para se tornarem santos. Somos membros pecadores da Igreja santa e temos de agradecer todos os dias porque Deus nos acolhe entre seus filhos, apesar de sermos ainda pecadores. Sua graça, que recebemos pela ação do Espírito Santificador, nos possibilita o crescimento em santidade. Continuemos, pois, a proclamar com fé e humildade: Creio na Igreja santa!

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