Creio na vida eterna

Iniciamos o mês de novembro com duas celebrações litúrgicas interligadas entre si, a saber: a Solenidade de Todos os Santos (o dia correto é o primeiro do mês, mas no Brasil, não sendo feriado, a celebração é postergada para o domingo subsequente) e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (Finados), no dia 2.

Juntas, expressam a esperança cristã na vida eterna, na ressurreição da carne e no mistério da comunhão dos santos: a Igreja a caminho, peregrina na terra, se une à Igreja padecente das almas do purgatório, oferecendo por elas, o sacrifício redentor de Cristo atualizado na Santa Missa, com a possibilidade de alcançar para os nossos entes queridos já falecidos indulgências, praticando as seguintes boas obras: confissão sincera dos pecados no sacramento da Penitência; participação da celebração eucarística e recepção da Comunhão; visita ao cemitério e oração pelos falecidos e pelo Santo Padre, o Papa. Com isso, apressamos a entrada das almas do purgatório na glória dos Céus. E uma vez lá, plenamente santificados, vivem eternamente com Cristo, esperam pela ressurreição da carne e intercedem por nós.

Segundo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, o cristão, que une a sua própria morte à de Jesus, vê a morte não como o fim da sua existência, mas como um caminhar ao encontro de Cristo e uma entrada na Vida Eterna. Essa doutrina já está revelada no Livro da Sabedoria, V.T, no qual lemos: “A vida dos justos está nas mãos de Deus, nenhum tormento os atingirá. Aos olhos dos insensatos (poderia se dizer, dos que não têm o sentido da fé), parecem ter morrido; sua saída do mundo foi considerada uma desgraça, e sua partida do meio de nós, uma destruição; mas eles estão em paz (…) tendo sofrido leves correções, serão cumulados de grandes bens, porque Deus os pôs à prova e os achou dignos de si” (Sb 3, 1-3.5).

No Evangelho segundo São João, encontramos: “Não se perturbe o vosso coração. Tendes fé em Deus, tendes fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas moradas. (…) Vou preparar-vos um lugar e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais também vós” (Jo 14,1-3). Em outra passagem, encontramos Jesus, pouco antes de ressuscitar seu amigo Lázaro, anunciar: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo 11,25-26). Já São Paulo, na Segunda Carta aos Coríntios, ensina: “Sabemos que se a tenda em que moramos neste mundo for destruída, Deus nos dá uma outra moradia no céu que não é obra de mãos humanas, mas que é eterna” (2 Cor 5,1).

O céu, nos ensina o Catecismo, é a vida perfeita com a Santíssima Trindade, a vida de comunhão e amor com Ela, com a Virgem Maria, os anjos e todos os bem-aventurados. É o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva.

Eis o porquê de Santo Agostinho chamar a morte de sua boa amiga; a razão pela qual os santos mártires muito pouco ou quase nada temiam a sua morte. E eis o porquê a liturgia denomina a celebração do Dia de Finados de Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, e não de lamentação: porque não apenas cremos, mas desejamos a vida eterna; desejamos adentrar na morada preparada e conquistada por Jesus Cristo para nós, nesta verdadeira terra prometida, onde não há mais dor, nem sofrer; onde todas as lágrimas que derramamos em nossa vida temporal serão enxugadas; onde nossa sede e fome de justiça serão saciadas; onde veremos a Deus, face a face, e seremos completamente tomados pelo Seu amor.

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