Neste Ano Jubilar, a Igreja nos propõe uma reflexão renovada sobre a esperança, virtude teologal recebida em gérmen no Batismo, juntamente com a fé e a caridade. Cabe a nós, ao longo da vida, crescer nas virtudes teologais, fazendo-as frutificar, com a ajuda da graça de Deus, até se tornarem a forma da vida cristã. A esperança, talvez, seja, das três, a virtude menos falada e posta em evidência, ao ponto de alguém ter escrito que se trata da “irmã menor das virtudes teologais”.
Não é, certamente, porque ela tem menor importância, mas porque é esquecida ou, muitas vezes, compreendida de maneira equivocada, como atitude passiva e infantil. A esperança tem sua base na fé e floresce na caridade. A fé confere as razões à esperança sobrenatural e, sem fé verdadeira, torna-se difícil esperar. A Carta aos Hebreus trata da fé e da esperança como duas coisas inerentes uma à outra (cf. Hb 11,1-40).
O autor da Carta aos Hebreus dirige-se a uma comunidade em que havia certo desânimo e a tentação de abandonar a fé cristã. Essa comunidade sentiu o peso da primeira perseguição e do martírio e se perguntava se havia valido a pena abraçar o Evangelho. O autor lhe apresenta o exemplo de fé e constância dos grandes “pais na fé”, desde Abraão e Sara, passando por Isaac, Jacó, José, Moisés e tantos outros que, “pela fé, conquistaram reinos, praticaram a justiça, receberam promessas…” (cf. Hb 11,33), enfrentaram toda sorte de violência e perseguição, escárnios e prisões, foram apedrejados ou mortos a fio de espada, andaram errantes e sem pátria (cf. Hb 11,35-38).
Todos esses mantiveram-se firmes e perseverantes na fé no Deus das promessas, embora não tenham alcançado ver o fruto de sua fé e de sua esperança. Mas sua fé e esperança não foram frustradas. “Todos eles morreram na fé. Não receberam a realização da promessa, mas a puderam ver e saudar de longe” (Hb 11,13). O autor apresenta a belíssima definição da relação entre fé e esperança: “a fé é o fundamento daquilo que ainda se espera e já se experimenta a respeito de realidades que não se veem” (Hb 1,1). A fé verdadeira, de alguma maneira, já faz viver no plano da realidade crida e por ela prometida. A filiação divina, mediante o Batismo, a contemplação de Deus e a vida eterna são realidades de fé que experimentamos desde agora, embora ainda de maneira imperfeita e na forma de promessas. A fé faz esperar aquilo que se crê.
A fé no Deus vivo, verdadeiro, misericordioso e fiel acompanhou todos os grandes na fé do Antigo Testamento, e, também, do Novo Testamento e da história da Igreja, como uma certeza inabalável. E essa fé oferece a base sólida para a esperança e permite, de alguma maneira, antever e já experimentar aquilo que ainda não se possui plenamente. São Paulo diz que nós possuímos os tesouros da fé “em vasos de barro” (2Cor 4,7). De fato, entre as mil dificuldades desta vida, a fé poderia até mesmo ser abalada e, com ela, a esperança e a confiança em Deus e nas suas promessas.
Renovar-se na esperança requer, portanto, renovar-se também na fé, pois sem esta, não há base para a esperança. E a fé nos dá a possibilidade de “esperar contra toda esperança” humana, como Abraão (Rm 4,18), como o justo Jó, que continuou a crer e esperar em Deus, mesmo com seu corpo e sua saúde destruídos pela lepra: “Eu sei que o meu Redentor vive” (Jó 19,25), e como tantos outros que, humanamente, não tinham mais motivos para esperar. Também os mártires cristãos, fortes e inabaláveis na fé, continuaram a esperar nas promessas de Deus, apesar de não terem mais motivos humanos para essa esperança, mas apenas os motivos sobrenaturais da fé.
A Oração do Jubileu de 2025 inicia com uma proclamação de fé no Pai dos céus e no seu Filho, Jesus Cristo, junto com a proclamação da fé no Espírito Santo, que derrama a caridade em nossos corações. A partir dessa fé, esperamos a vinda do reino de Deus, que não é “construção humana”, mas é dom e graça de Deus. A partir dessa fé e esperança, nos lançamos à ação, motivados e iluminados para acolher o reino de Deus e participar da sua difusão no mundo. Temos fé no desígnio amoroso de Deus sobre nossas vidas e sobre este mundo e esperamos nas promessas de Deus. Por isso, aceitamos ser “cultivadores diligentes das sementes do Evangelho”, para que fermentem o mundo, a humanidade e o cosmos inteiro.
Parece um sonho fora da realidade querer mudar este mundo tomado por tantos e tão grandes poderes do Mal e vencê-los, confiando e esperando os “novos céus e nova terra”, nos quais reine a justiça e se manifeste a glória de Deus. Mas, pela fé, temos a certeza de que não se trata de miragens, nem de sonhos impossíveis, porque Deus tem a última palavra sobre as realidades deste mundo. E ousamos mais: pela fé e movidos pela esperança, “que não decepciona”, não iludidos, mas como “peregrinos de esperança”, desejamos os bens celestes e a plena realização das promessas de Deus. Nossa esperança é altíssima, porque temos fé no Deus vivo, verdadeiro e fiel às suas promessas e no seu amor infinito, revelado a nós por Jesus Cristo, seu Filho.
Excelente reflexão! Cada dia que passa me apaixono mais pela minha igreja mediante esclarecimentos de servos do Senhor como D Odilo que clareia os conhecimentos que tinha minha primeira comunhão. Senhor Jesus aumenta minha fé.