Cuida das minhas ovelhas

O evangelista João reproduz o relato do encontro de Jesus ressuscitado com seus discípulos à beira do mar de Tiberíades (mar da Galileia), mostrando a vida diária dos discípulos que voltaram à sua terra e ao seu trabalho de pescadores depois dos dias perturbadores da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Estava sendo difícil compreender o que tinha acontecido. Aproxima-se a noite e os discípulos saem para pescar. Barca e redes vazias, experiência dolorosa e frustrante de algumas comunidades primitivas e de muitas nos dias atuais. Preocupante quando a fé no Ressuscitado e do Ressuscitado vai caindo no esquecimento, no descrédito, e sendo substituída por um devocionismo exagerado e muitas vezes na contramão do que Jesus fez e ensinou, ou ainda em propostas mágicas de cunho financeiro, e muitas outras iniciativas bem perturbadoras.

Ao amanhecer, Jesus procura seus discípulos e pergunta se tem alguma coisa para comer. Como nada tinham, Ele pede que lancem as redes, o que resulta na pesca de abundante quantidade de peixes. Ciente de que era o Senhor, Simão Pedro vestiu sua roupa e se atirou ao mar. Quando reconhecemos a presença do Ressuscitado em nossa barca, quando confiamos na sua Palavra, ânimo e coragem voltam com mais vigor e as redes ficam cheias.

Chegando à praia, descobrem que Jesus já tinha preparado uma refeição com pão e peixe assado na brasa, no entanto, o Ressuscitado quer a participação dos pescadores e pede que tragam alguns dos peixes que tinham pescado. Jesus se dá por inteiro como alimento que nos sustenta hoje e nos remete para a eternidade, no entanto, pede a nossa participação, o pão conquistado com o suor do nosso corpo, para que seja partilhado entre os comensais. A vida comunitária onde os irmãos tomam do mesmo pão e do mesmo cálice deve ser lugar de partilha e jamais ambiente escandaloso que não questiona o abismo que existe entre ricos e miseráveis, vida luxuosa de alguns e multidão desprovida do mínimo para sobreviver.   

E uma comunidade centrada no Cristo Ressuscitado precisa ser provada no amor. E o questionamento é dirigido a Simão Pedro por três vezes. Na primeira faz uma comparação: “Tu me amas mais que estes?”. Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que sou teu amigo”. Na segunda, não faz comparação e apenas pergunta: “Tu me amas?”.  Pedro responde: “Sim, Senhor, tu sabes que sou teu amigo”. Na terceira vez, Jesus muda e não pergunta sobre o amor, mas sobre a amizade: “Simão, filho de João, você é meu amigo?”. Diante disso, Pedro cai em prantos, porque tem dificuldade em falar que o ama (“A loucura de Deus”, Alberto Maggi). De agora em diante, sua missão recebe nova definição e, além de ser rochedo (cf. Mt 16,18), é também pastor e dará a vida pelo rebanho. Com o tempo vêm as limitações, o corpo se definha, as rugas se reproduzem, mas o amor, ao contrário, não envelhece nem cria rugas.

Nossas comunidades centradas na Palavra e na Eucaristia precisam do vigor e coragem de Pedro, que grita bem forte que é preciso obedecer a Deus, antes que os homens; do testemunho do trabalhador São José, que nos inspira a denunciar que há mais de 13 milhões de desempregados em nosso País; da intercessão da Virgem Maria, que lembra a força transformadora das mulheres presentes em nossas Igrejas, no mundo do trabalho e na política. Em tudo coragem, esperança e fé, pois, “se à noite vem o pranto nos visitar, de manhã vem nos saudar a alegria” (Sl 29,6).    

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