Há um processo longo, laborioso e prudente até que uma diocese seja erigida e instalada como tal. O Brasil, desde a sua fundação até hoje, excluindo outras circunscrições eclesiásticas, tem em seu vasto território 217 dioceses. O primeiro bispado criado no País foi o de São Salvador, na Bahia (hoje Arquidiocese) em 1551; e o último, o de Cruz das Almas, curiosamente no recôncavo baiano, em 2017.
A história eclesiástica, sobretudo após a Proclamação da República, registra uma multiplicação de novas dioceses. Contudo, durante todo o período do império, poucas dioceses açambarcavam todo o território nacional. Havia, é verdade, questões ligadas ao regime do padroado que não concorriam para a rápida criação dessas circunscrições. Não obstante esses atenuantes e num contexto de um Brasil imperial, desmembrada da Diocese do Rio de Janeiro, a cidade de São Paulo foi elevada a sede de bispado, por meio da bula “O resplendor da Luz Eterna” (Candor Lucis Aeternae), no dia 6 de dezembro de 1745, dia fadado a ser permanentemente recordado.
Essa data, hodiernamente, pode ser vista como uma singela efeméride. Trazê-la à memória, desse modo, é associar simbolicamente a história escrita na São Paulo de hoje com aquela que foi redigida sob o suor, as preces, as lágrimas e o sangue de abnegados homens e mulheres, clérigos e leigos, povo de Deus. Trata-se de um reconhecimento de que os passos dados na atualidade estão umbilicalmente atados àqueles outrora trilhados pelos nossos predecessores.
De fato, do amplo território da, à época, Diocese de São Paulo, vários outros bispados surgiram. Do despojado trabalho de valorosos presbíteros, surgiram novas igrejas, brotaram novos cristãos. Do zeloso pastoreio de vários bispos, surgiram paróquias, seminários, sacerdotes e novas comunidades religiosas. Enfim, fragmentos da Luz Eterna fecundaram essa história e fizeram surgir, mesmo que com algumas rusgas, caminhos novos no processo evangelizador.
Hoje, passados 276 anos da criação dessa Sé diocesana e já ela tendo sido, desde 1908, elevada à dignidade de Arquidiocese, recobrar a memória daquele 6 de dezembro é divisar a responsabilidade de cada cristão que vive nesta grande metrópole em que “Deus habita […] e nós somos suas testemunhas”, isto é, a de escrever uma história respeitosa dos nossos predecessores, à altura do Evangelho e dos desafios do nosso tempo.
Padre Reuberson Ferreira, MSC, é Pároco e Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Sagrado Coração.