Diversidade, inclusão e a centralidade da pessoa na escola católica

Os termos diversidade e inclusão orientam grande parte dos posicionamentos político-culturais em nossa sociedade. Um grave limite das concepções hegemônicas de diversidade e inclusão, contudo, é que se referem a processos coletivos. É um grupo social que é reconhecido como diverso e com direito à inclusão. Pior: esse reconhecimento é definido em grande parte pelo poder político e pela capacidade de expressão cultural desse grupo, mais do que pelos direitos e necessidades reais de cada um. Muitas vezes, a pessoa em particular tem que se adaptar à lógica do grupo para ter acesso ao processo de inclusão ou mesmo não é incluída porque seu grupo não conseguiu poder político necessário para ser reconhecido. 

Infelizmente, as comunidades católicas, inclusive suas escolas, algumas vezes se perdem no afã de seguir os pontos positivos ou denunciar os pontos negativos dessa orientação. Contudo, muitos bons educadores têm se esforçado por encontrar caminhos adequados e equilibrados para enfrentar essas questões. A seguir, apresentamos alguns pontos vindos das reflexões de alguns desses educadores. 

Um olhar para a história, sem preconceitos ideológicos, mostra que a Igreja é mestra em inclusão. À luz dos conhecimentos atuais, muitos esforços de inclusão realizados pelas comunidades cristãs podem parecer falhos. Contudo, comparados com a mentalidade das populações a que pertenciam, esses esforços sempre foram indispensáveis para a justiça e o bem comum. Um traço marcante de todas essas experiências cristãs é que se voltam à acolhida de pessoas concretas, não de coletivos, e são determinadas pelas necessidades reais dos mais frágeis e não por sua força política. 

A centralidade da pessoa é um dos pilares de uma verdadeira educação católica (cf. “Que tipo de escola e de universidade católica?”, no documento da CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar hoje e amanhã. Uma paixão que se renova, 2014). 

Nessa perspectiva, muitos educadores católicos têm defendido quatro ações visando à inclusão e ao acolhimento na escola católica:

1. Oferecer um acompanhamento personalizado a cada estudante e  família;

2. Formar uma pessoa capaz de decidir a própria vida, que não seja subserviente nem à mentalidade hegemônica, nem a um coletivo identitário; 

3. Procurar incluir todas as pessoas e a pessoa inteira. Esse processo inclui não apenas os grupos mais visíveis nas mídias sociais, mas, também, aqueles frequentemente invisibilizados na sociedade atual, como os funcionários menos qualificados da escola, o povo da rua no entorno da escola, os estudantes com necessidades especiais, os doentes e os idosos das famílias; 

4. Ter uma visão abrangente da questão da diversidade, pois fomentar a personalidade de cada um é tão im- portante como a capacidade de conviver com pessoas diferentes. Muitas vezes, os coletivos identitários não estão atentos aos traços particulares de cada pessoa, obrigando aquele que se sente diferente a se comportar segundo um certo padrão estabelecido pelo grupo. A escola católica, ao abordar a questão da diversidade, deve dar espaço para que cada um possa se descobrir e se realizar tal qual realmente é, não segundo um esquema predefinido. 

Uma visão polarizada dessas questões, seja de um lado ou de outro do espectro ideológico, não ajudará nem os jovens, nem a escola. Os rótulos sociais, mesmo que usados com uma certa ingenuidade e boa vontade, também afastarão a escola de sua verdadeira vocação católica.

Existem, evidentemente, muitas dificuldades, tanto pedagógicas quanto econômicas, para consolidar uma experiência verdadeiramente personalizada nas escolas católicas – mas esse é o caminho a ser trilhado. 

Francisco Borba Ribeiro Neto, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP. 

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