Na iminência do primeiro turno das eleições (em que elegeremos vereadores para integrar o Legislativo municipal, e possivelmente também um Prefeito, caso não seja necessário um segundo turno), trazemos à memória dos cidadãos e dos próprios homens públicos a vida de São Tomás More (1478-1535), padroeiro e grande modelo dos que se dedicam à política – que, no dizer do Papa Francisco, deve ser uma “elevada forma de caridade”.
More foi um advogado e famoso humanista inglês, autor do livro “Utopia” e amigo próximo de Erasmo de Roterdã. Embora tenha desejado, na juventude, abraçar a vida religiosa (ele chegou a conviver com franciscanos conventuais e com cartuxos), More persuadiu-se de que Deus o chamava a uma vida laical, o que o levou a constituir uma família e a utilizar seus talentos como advogado e homem público. O sucesso não tardou a chegar, e ele foi sendo progressivamente alçado a cargos cada vez mais importantes, até chegar ao posto de chanceler da Inglaterra – algo como um primeiro-ministro –, e mão direita do Rei Henrique VIII.
Foi nesse contexto que uma grave crise política começou a se instalar na Inglaterra quando o rei, que não conseguia gerar um herdeiro com sua rainha legítima, planejou assumir o controle da Igreja, para assim conseguir o próprio divórcio. More recusou-se sempre a colaborar com as investidas regalistas nesse sentido – e aos membros do governo que lhe perguntavam com que direito opunha sua consciência às necessidades do reino, respondia que “quando os políticos abandonam sua consciência privada em favor de seus deveres públicos, eles conduzem seu país por uma breve estrada até o caos”.
Aqui convém lembrar que, como nos ensina a Igreja, os políticos (como, aliás, todos os demais cristãos) não podem viver uma “vida dupla”: devotos na Igreja e laicistas completos na vida social – afinal, “nenhuma atividade humana, nem mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao domínio de Deus” (Lumen gentium, 36).
Um dos mais sérios sintomas desta duplicidade de vida – e também uma grave violação à justiça – seria incorrer na prática da corrupção: vender-se por dinheiro, tomando para si próprio os recursos que pertencem à sociedade, e “roubando sua esperança”, como já disse o Papa Francisco.
Numa cidade rica como a nossa, por exemplo (o orçamento da Prefeitura de São Paulo é maior que o da maioria dos estados do País!), não se compreende que tantas famílias continuem sem ter nem sequer um teto para se recolher à noite, ou tenham de viver insalubremente em ocupações clandestinas, sofrendo frequentes roubos e insegurança.
Deveria ser, também, uma prioridade para os futuros eleitos ouvir as insistentes solicitações de tantos pais e mães de família, preocupados com a formação integral de seus filhos. Os que precisam da ajuda do Estado para empreender esta tarefa desejam que a escola busque incutir nas crianças a busca sincera pela verdade, e não por esta ou aquela ideologia da moda – por exemplo a ideologia que decreta inexistir qualquer fundamento biológico para as inegáveis distinções entre homens e mulheres (respeitada, naturalmente, sua igual dignidade).
Ademais, os eleitos precisariam também ouvir os anseios dos empregadores: diminuição de burocracia e aumento de eficiência da máquina pública, para propiciar a geração de empregos e a melhora na economia.
Nossos votos aos candidatos que forem eleitos são que usem do poder de seu cargo para buscar atender às demandas legítimas que recebem da sociedade. Oxalá possa se aplicar a eles as palavras do Eclesiástico: “Ele podia transgredir a lei, e não a transgrediu; ele podia fazer o mal, e não o fez. Isto será para ele uma glória eterna” (Eclo 31,10).