As eleições na pandemia e a política melhor

Poucas vezes a vida e o mundo mudaram tanto em dois anos quanto nestes últimos tempos, que separam as eleições de 2018 da atual. O cenário político mudou, com novos protagonistas envolvidos em novos e velhos problemas. A pandemia transformou o mundo e o modo como o vemos.

No Brasil, contudo, mas não só nele, eleições costumam ser marcadas por um clima de cansaço e esgotamento de grande parte da população. Na hora da votação, parece que nada muda, que a “grande política”, que constrói o bem comum, nunca acontece, e só a politicagem permanece

Essa imagem, contudo, não é verdadeira. A História caminha, ainda que num ritmo mais lento do que gostaríamos, alternando os momentos de avanço com os de retrocesso, melhorando aqui e piorando ali.

Assim como a nossa vida vai sendo construída, com dedicação e esforço cotidianos, o bem comum também se constrói num longo caminho, no qual as eleições são etapas necessárias e fundamentais.

A situação geral do País, agravada pela pandemia, exige de nós um compromisso cada vez maior com o diálogo e a solidariedade. Essas duas palavras, tão caras ao Papa Francisco, deveriam iluminar a participação de cada um de nós, cristãos e pessoas de boa vontade em geral, nesse contexto atual.

Deus nos fala em meio aos acontecimentos da vida. Em tempos de acirramento dos conflitos e das polarizações, quando a pandemia nos isola e sacrifica os mais vulneráveis, a Cátedra de Pedro está ocupada por um homem que é sinal claro de diálogo, solidariedade e amor fraterno.

Deus não nos abandona, nos fala em meio às tribulações e dificuldades… Cabe a nós ouvi-Lo e corresponder a Seu apelo. Eleições são tempo de reflexão, de avaliar o que está sendo feito pelo bem comum, de rever nosso próprio engajamento na construção desse propósito.

Quando não encontramos bons candidatos, o problema não é somente dos políticos. Pessoas boas sempre existem. Se não se candidataram – ou se candidataram, mas não os conhecemos – é sinal de que nós mesmos, individualmente ou em comunidade, não estamos suficientemente envolvidos na construção de uma “política melhor”, na expressão usada por Francisco na Fratelli tutti.

Numa eleição, não são apenas os candidatos que se comprometem com aqueles que neles votaram. Nós, eleitores, também nos comprometemos uns com os outros, em nosso esforço para encontrar e apoiar os melhores candidatos.

“Uma andorinha só não faz verão”, diz o ditado popular. Sozinhos, os políticos que elegermos não serão capazes de mudar muita coisa. Nosso compromisso, como eleitores, transcende a votação. Somos responsáveis por acompanhar os eleitos, particularmente aqueles em quem votamos, mas não só eles, apoiando-os em suas justas causas, corrigindo-os em seus erros (pois ninguém é perfeito e todos podem fazer escolhas erradas, mesmo que com boa intenção).

Esta não é uma eleição como as outras… Não só porque alguma coisa mudou no cenário político ou porque a pandemia agravou os sofrimentos dos povos. Ela é diferente porque, em cada contexto, Deus sempre nos interpela de um modo renovado.

Que possamos ir para essa eleição com uma renovada consciência de que o diálogo, a fraternidade e o amor fraterno podem, com nossa colaboração, fazer acontecer uma “política melhor”

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