Quando lemos na Escritura as passagens da vida de Jesus, talvez fiquemos um pouco entristecidos por não termos tido a chance de viver naquela época: não pudemos ver a pesca milagrosa nem a cura dos leprosos; não pudemos ouvir a ternura com que clamava, “Vinde a mim, todos os que estais fatigados, e eu vos aliviarei”; nem contemplar o olhar amoroso que voltava ao jovem rico ou a misericórdia com que enxergava as grandes multidões, quais ovelhas sem pastor… Afinal de contas, não declarou o próprio Jesus que são felizes os olhos que veem o que viam, pois muitos profetas e reis desejaram ver e ouvir aquelas coisas, e não as viram nem ouviram (cf. Lc 10,23-24)?
Se bem lembrarmos, no entanto, essa passagem ocorre quando os 72 discípulos retornam das viagens missionárias que fizeram, alegres pelos prodígios que aconteciam por suas mãos: “Senhor, até os demônios se nos submetem em teu nome!” (v. 17). Mas Jesus lhes dá uma resposta inesperada: “Não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam escritos nos céus” (v. 20). Em outras palavras: de nada adiantava testemunhar grandes milagres externos, se eles não fossem um instrumento para a conversão interior, para que a alma dos discípulos não se voltasse pra Deus. Como dizia Saint-Exupéry, “o essencial é invisível aos olhos”, e exige bastante humildade para ser entendido – por isso é que o Pai escondeu essas coisas dos sábios e entendidos, e as revelou aos pequeninos (v. 21).
Iluminados por estas verdades, podemos afastar aquela tentação de lamentar, não ter sido testemunha ocular da vida de Cristo aqui na terra. Na verdade, nosso contato com Jesus é hoje bem mais próximo e direto do que quando Ele marchava pela Terra Santa – pois então era limitado pelas características próprias de sua natureza humana: quando estava em Jerusalém, não estava em Cafarnaum; quando conversava com o círculo dos Doze, não podia atender as multidões… Quem precisava falar com Jesus não raro tinha que fazer grandes esforços para conseguir um pequeno momento “a sós” – como a hemorroísa que teve de se apertar pela multidão, para conseguir tocar a orla de suas vestes (cf. Lc 8,40-48), ou como Zaqueu que teve de subir numa árvore para conseguir ver Sua passagem por entre a turba que o seguia. Quando Ele entrava numa cidade, todos o procuravam, mas às vezes Ele se retirava sozinho, antes do amanhecer, para fazer oração (cf. Mc 1,35-38).
Depois de terminar sua missão nesta terra e nos salvar pelo Mistério Pascal, Cristo subiu aos céus, mas prometeu que estaria conosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28, 20). E como é que Ele cumpre esta promessa? Pela Sagrada Eucaristia, seu verdadeiro Corpo, Sangue, Alma e Divindade!
Quando nos ajoelhamos diante da hóstia consagrada, somos como Pedro que caía de joelhos ante a grandeza do Mestre. Quando comungamos com reverência, podemos realmente abraçar e ser abraçados por Jesus, numa união íntima, mais “no peito de Jesus” do que o próprio São João, na Última Ceia. Se nossos afetos e paixões estão desordenados, a Comunhão nos faz ser tocados pela humanidade de Cristo, em que as paixões estão todas ordenadas à vontade do Pai. Se nossa vontade é fraca e vacilante perante as dificuldades, a Comunhão nos faz tocar, por alguns minutos, naquele coração humano forte, que se sacrificou inteiramente por amor ao Pai.
Bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento! Que o Santo Sacramento, que é o próprio Cristo Jesus, seja adorado e seja amado nesta terra de Santa Cruz!