Chamados a descobrir Cristo nos pobres

No domingo, 19, a Igreja comemora o Dia Mundial dos Pobres, data instituída pelo Papa Francisco em 2016, na conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. E é justamente na perspectiva da misericórdia que o Santo Padre convida os católicos a olharem para os mais necessitados.

Na mensagem escrita para este ano, o Pontífice se inspirou no versículo bíblico “Nunca afastes de algum pobre o teu olhar” (Tb 4,7). Esse texto mostra Tobit, homem justo e dedicado aos pobres, que aconselha o filho Tobias numa espécie de testamento espiritual, exortando-o a viver conforme os mandamentos, a praticar a justiça e a sensibilidade para com os pobres.

Francisco sublinha que a humanidade vive um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres. “O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, enquanto se põe o silenciador relativamente às vozes de quem vive na pobreza”. A pressa, “companheira diária da vida”, impede de parar, socorrer e cuidar do outro, repetindo o que foi narrado por Jesus na parábola do bom samaritano (cf. Lc 10,25-37).

O Santo Padre rende graças a Deus por tantos homens e mulheres que se dedicam aos mais pobres, lembrando que essas pessoas, porém, não são “super-heróis”, mas “vizinhos de casa” que não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. São pessoas atentas tanto à necessidade material quanto à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa.

Recordando o 60º aniversário da encíclica Pacem in terris, Francisco cita São João XXIII quando escrevia que “o ser humano tem direito à existência, à integridade física, aos recursos correspondentes a um digno padrão de vida, especialmente à nutrição, vestuário, moradia, repouso, assistência sanitária e aos serviços sociais indispensáveis, como o amparo na doença, invalidez, velhice, desemprego forçado e privação do sustento por circunstâncias alheias à sua vontade”.

Ao enumerar as várias formas de pobreza, o Papa destaca a multidão que vive com o mínimo para suprir as necessidades básicas de sua sobrevivência. São os que vivem sem trabalho ou enfrentam a constante precariedade do mundo do trabalho, marcado por uma “desordem ética” que, muitas vezes, privilegia o lucro imediato em detrimento da segurança. É nesse sentido que Francisco recorda as palavras de outro predecessor, São João Paulo II, que, na encíclica Laborem exercens (1983), afirmou que o primeiro fundamento do valor do trabalho é o próprio homem.

Além do esforço individual e generoso em assistir os pobres, o Pontífice enfatiza que se faz necessário “um sério e eficaz esforço político e legislativo” para assegurar o bem comum, a solidariedade social e a subsidiariedade dos cidadãos. Ele sustenta, ainda, que a solicitude pelos pobres por parte dos cristãos seja sempre marcada pelo realismo do Evangelho, com discernimento, sob a guia do Espírito Santo, para distinguir as verdadeiras necessidades dos irmãos.

O Papa recorda que todos são chamados a descobrir Cristo nos pobres: “não só a emprestar-lhes a nossa voz nas suas causas, mas também a ser seus amigos, a escutá-los, a compreendê-los e a acolher a misteriosa sabedoria que Deus nos quer comunicar por meio deles”.

Por fim, Francisco afirma que a fé ensina que todo pobre é filho de Deus em quem está presente Cristo, que exortou: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes” (Mt 25,40).

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Luiz Thiago
Luiz Thiago
5 meses atrás

Chamados a descobrir Cristo nos Pobres.
O rosto de Cristo está presente no rosto dos pobres, principalmente nos moradores de rua das grandes cidades. São Paulo, tem hoje milhares de moradores de rua que não têm absolutamente nada. Vivem a espera de um prato de comida que as Igrejas e outras entidades lhes proporcionam e, muitas vezes a espera de um bom dia ou uma boa noite. Lembro-me de quando tinha energia e vigor físico, levava a eles Jantar aos domingos e numa noite um morador de rua me disse : “eu não quero comida, quero apenas um sorriso e uma boa noite”. Como é dolorido a exclusão, a indiferença e sobretudo a discriminação .