Coração de Jesus, Coração de Maria

Nesta semana, em que celebramos a Ascensão do Senhor, concluímos o mês de Maria e damos início ao mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Dediquemos, então, estas linhas à reflexão sobre o papel exercido para nossa salvação e santificação por estes dois Corações tão unidos entre si – que, aliás, dão origem à bela devoção de Nossa Senhora dos Divinos Corações.

Em primeiro lugar, sob a invocação do Sagrado Coração de Jesus, nos lembramos não apenas do coração físico de Cristo, de seu ver- dadeiro corpo perfurado pela lança, mas, também, da ternura humana com que quis nos amar. Jesus quis nos salvar integralmente, em cada aspecto de nosso ser: por isso, redimiu todas as nossas faculdades e paixões. Assim é que São Paulo podia nos exortar a ter os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus (Fl 2,5), o qual “não se apegou ao ser igual a Deus, mas, como que se esvaziando a si mesmo, assumiu a forma de servo, humilhando-se, feito obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,6-8). Em Cristo, podemos esperar que esta nossa vontade, distorcida pelo pecado original e inclinada para o egoísmo, seja plenamente redirecionada ao bem e ao amor de Deus, em autêntica santidade.

A ternura e o amor que Jesus nos teve são certamente motivo bastante para nos mover à imitação de Cristo – mas a ideia de nos humilharmos, carregando nossa Cruz cotidiana, frequentemente nos tenta ao desânimo.

Aqui é que entra, por sua vez, o Imaculado Coração de Maria: Nossa Senhora era uma pessoa humana como nós, que, com sua abertura à graça, conseguiu conformar seu coração totalmente ao de Cristo. É muito significativo, aliás, que em Fátima (Portugal), Nossa Senhora tenha revelado seu coração coroado de espinhos – pois esta é tradicionalmente a representação do Coração de Cristo, não do de Maria. A alma de Maria, portanto, é o modelo a que todos devemos aspirar: a uma pessoa humana, que em cada aspecto de sua existência disse “sim” a Deus.

E Maria não só é nosso modelo: ela é também nossa doce e querida Mãe! Nada mais característico de uma Mãe que acalmar e afastar o medo de seus filhos. No belíssimo hino Dies Irae, sobre o Juízo Final, cantamos Quid sum miser tunc dicturus, quem patronum rogaturus, quando judex sit venturus? – “Que direi eu, pobre miserável, a qual advogado recorrerei, quando o juiz houver de vir?”. Maria é nossa Advogada – e lembramos aqui aquela comovente cena do Auto da Compadecida, em que João Grilo, já prestes a ser condenado, recorre confiante à materna intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Deus, de Nazaré!

Quando Cristo ascendeu aos céus, os discípulos voltaram a Jerusalém para buscar aconchego em sua Mãe. Peçamos, então, a Nossa Senhora a graça de conformar sempre mais nosso pobre coração ao de seu Filho, para, assim, podermos subir com Ele à morada de Deus.

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