Descanso

Para muitas crianças e famílias, o mês de julho traz as tão esperadas férias. É compreensível e saudável que, depois de um semestre exercendo nossos deveres escolares e profissionais, sintamos certo cansaço e sede de descanso. Neste período de férias, no entanto, não é raro vermos bons cristãos que acabam “saindo dos eixos” e prejudicando sua intimidade com Deus. Aqueles mesmos homens e mulheres devotos, que em meio às suas ocupações habituais conseguem manter um cuidado assíduo com sua vida de oração e amizade com Deus, acabam, às vezes, tirando “férias de Deus” e, por isso, depois voltam aos seus afazeres mais desalentados e fadigados do que já estavam. O que fazer, então, para vivermos bem, como homens e como cristãos, estes dias de descanso?

O descanso é uma parte integrante desta criatura chamada ser humano – e por isso só pode ser entendido em seu sentido mais profundo à luz do desígnio de Deus para nós, que se faz ver plenamente em Cristo, perfeito Deus e perfeito homem. Assim como Jesus era profundamente humano e profundamente divino, também o descanso tem esses dois aspectos: de um lado, é uma necessidade de nossa natureza, que, assim como um burrinho de carga, precisa ocasionalmente de uns respiros, de uns mimos e afagos para perseverar em sua marcha.

Por outro lado, o descanso é também um chamado de Deus: Ele próprio descansou no sétimo dia (Gn 2,1-3) – ensinando aos que cansam na luta, que o descanso é também dom precioso, como cantamos em alguns ofícios litúrgicos. Ora, se Deus nos pede para descansarmos, isso significa que o descanso não é uma exceção ao chamado à santidade e à união íntima e contínua da alma com Deus. Em outras palavras, assim como devemos santificar o trabalho, exercendo-o sempre com um olhar sobrenatural que transforma os pequenos esforços da rotina em ocasiões de amar a Deus, assim também precisamos santificar o descanso, recebendo-o como dom divino, que nos ajuda a nos aproximarmos Dele.

Isso significa que, para um cristão, o descanso é muito diferente do ócio, do “não fazer nada”. Como coloca o Concílio Vaticano II, “os tempos livres sejam bem empregados, para descanso do espírito e saúde da alma e do corpo, seja com atividades e estudos livremente escolhidos, seja com passeios a outras regiões (…), seja também com exercícios e manifestações esportivas” (Gaudium et spes, 61). Assistir a um bom filme, por exemplo – não apenas a um filme que tenha bons efeitos especiais ou que tenha tido um bom orçamento, mas um filme com uma boa trama, que levante questionamentos profundos, que grave memórias na alma e faça pensar… E o filme, para ser bom, não precisa ser religioso (e muito menos “carola”): na própria Lista de filmes recomendados pelo Vaticano, por exemplo, além da categoria “Religião”, encontramos as categorias “Arte” e “Valores”.

Nossa cidade também oferece vários passeios culturais bastante ricos. Apenas no Centro Histórico, por exemplo, pode-se passar um dia inteiro visitando as igrejas com profundas raízes na história paulistana: a Catedral da Sé; o Santuário de São Francisco de Assis, a Igreja de Santo Antônio, na Praça do Patriarca; o Mosteiro de São Bento; a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, o Pateo do Collegio, entre tantas outras… Cada uma dessas igrejas é uma verdadeira “Bíblia”, com detalhes que podem ser explorados quase sem fim.

Aproveitemos bem, então, nossas merecidas férias. Se em nossos trabalhos ordinários costumamos olhar para a Cruz e nos associar à salvação que Cristo ali nos ganhou, vivamos agora este momento de descanso com o olhar na Ressurreição, que prefigura a verdadeira Alegria e Descanso que nos espera no Céu.

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