Como sabe o leitor, o tema é quente e está intimamente ligado às redes sociais. Sua importância e intimidade com a nossa realidade cotidiana pedem uma meditação cautelosa.
A expressão fake news significa, literalmente, notícia falsa. Se no dicionário a palavra notícia significa relato de um acontecimento, então fake news é um relato ou uma narrativa de algo que não aconteceu, ou a distorção do acontecido. Em ambos os casos, trata-se de uma mentira.
O grande problema das fake news é que, uma vez espalhadas pelas mídias sociais, viralizam e podem causar danos irreparáveis às suas vítimas e à sociedade como um todo, sempre que envolvem interesses comuns. Por isso, alguns políticos, setores do Poder Judiciário e mesmo profissionais da imprensa, têm defendido o controle dos conteúdos difusos nas mídias sociais por parte de órgãos determinados pelo governo, representativos do Estado.
É notório que a mentira pode causar danos irremediáveis. Basta olhar para o pecado original, cometido por nossos primeiros pais, que acreditaram na primeira fake news da história, lançada por ele próprio: “o pai da mentira”. Assim, pensando rápido, deveríamos crer que, uma vez que consideramos um mal objetivo a veiculação de mentiras, deveríamos também apoiar o controle estatal e leis restritivas sobre os conteúdos difundidos nas redes sociais.
Ocorre, contudo, que historicamente o controle das mídias sempre esteve relacionado a regimes totalitaristas e antidemocráticos. Foi e continua sendo usado como ferramenta para impedir a difusão de ideias, opiniões e posicionamentos políticos que não se ajustam aos regimes de governos em exercício. Em outras palavras, resulta em censura, violação das liberdades humanas de pensamento e de expressão. E como, via de regra, uma coisa leva à outra, a censura com objetivos de manutenção de regimes de governos ditatoriais e totalitaristas conduz à violação da liberdade de ir e vir, justifica perseguições e culmina com o uso de violência contra opositores.
Nós, cristãos, temos outras soluções para combater as fakes news: o amor à verdade, o exercício da sinceridade e responsabilidade pessoal.
A verdade para nós não é um conceito abstrato, mas sim um ajustamento da inteligência humana à realidade das coisas tal como são, como foram criadas e para o fim a que se destinam. Os mandamentos de Deus nos agraciam com a verdade sobre o bem e o mal e a arte de bem viver e ser feliz, além de superação das aflições, contradições e injustiças presentes no mundo.
Nas últimas décadas, fomos bombardeados com um “modo de pensar”, moldados num comportamento “politicamente correto”, que podemos não entender sua lógica sem nos afastarmos um pouco.
Trata-se do fenômeno cultural que foi cunhado pelo Papa Emérito Bento XVI como “ditadura do relativismo”, uma ideologia que parte do pressuposto da inexistência da verdade como uma realidade objetiva e absoluta. Como consequência, vivemos em um ambiente cultural idealista, subjetivista, individualista, permeado de “valores líquidos” e sem outras referências sobre o bem e o mal, o belo e o verdadeiro que não os próprios desejos, paixões e opiniões.
O relativismo como ideologia permitiu que cada um tivesse a ilusão de poder construir a “sua própria verdade”, como ditadura, proibiu se opor ou contestar a “verdade do outro”, comportamento que passou a ser considerado um ato de intolerância.
O relativismo é, em realidade, a grande fake news da era moderna e dos nossos dias. E aos que têm ouvidos e desejam ouvir, lembramos: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Esta verdade é Jesus Cristo, “caminho, verdade e vida” (cf. Jo 14,6).