Nesta semana, O SÃO PAULO comenta os escândalos de corrupção que aconteceram durante a pandemia da COVID-19. A necessidade de ações emergenciais se tornou prato cheio para muitos políticos e gestores.
Como é possível que os roubos ao patrimônio público continuem, após tantos anos de combate à corrupção, que chegou a ser considerado exemplo mundial, do impeachment de uma presidente, da condenação de uma série de governadores e políticos? O católico bem formado encontrará, na sabedoria cristã, muitas pistas de respostas a essa pergunta.
Em primeiro lugar, todos estamos sujeitos à tentação. Não existe, nesta vida, uma vitória definitiva sobre o pecado. Quando alguém se proclama acima do pecado, está fadado a pecar ainda mais, como na parábola do fariseu presunçoso e do publicano humilde (Lc 18,9-17). Por isso, temos que estar sempre vigilantes para enfrentar tanto a corrupção quanto os demagogos que, embora se apresentem como melhores que os demais, no fundo, são iguais.
Muitos querem instrumentalizar a luta contra a corrupção, para tirar vantagens partidárias, mas partidos representam posições político-ideológicas, enquanto a postura ética é um desafio pessoal a cada político.
Por isso, não nos basta apenas condenar a corrupção dos demais partidos: temos que estar sempre vigilantes para combater a corrupção que pode ocorrer nos partidos nos quais votamos ou nos filiamos. Aliás, vigiar e fiscalizar os políticos e partidos em que votamos, para que permaneçam comprometidos com o bem comum, é uma de nossas maiores obrigações – para não corrermos o risco de ser como os hipócritas que veem o cisco no olho do outro, mas não a trave em nossos olhos (cf. Mt 7,3-5).
Os especialistas ouvidos por O SÃO PAULO também se referem à lentidão de resposta dos órgãos públicos e das dificuldades enfrentadas pelas operações anticorrupção. O fato é que o combate à corrupção não é feito apenas com medidas judiciais e legais. Não basta ter boas leis, bons juízes e investigações bem conduzidas e apoiadas.
Todas essas iniciativas mencionadas são importantes, mas equivalem a “enxugar gelo” sem a construção de uma “política melhor”, na expressão do Papa Francisco, na Fratelli tutti (capítulo V). Os melhores resultados, no combate à corrupção, são conseguidos quando uma nação, valendo-se do voto e da participação social, consegue que o Estado esteja mais comprometido com o bem comum, atuando com maior transparência e respeito à população.
Assim, a corrupção torna-se também um desafio de caráter educativo: os eleitores têm que se educar cada vez mais para saber escolher bons políticos e participar na construção do bem comum.
Ainda somos um povo que lê pouco, se informa por noticiários superficiais na TV ou (agora ainda pior) por posts descompromissados nas redes sociais, que não explicam bem os fatos ou trazem fake news. O combate à corrupção implica órgãos estatais transparentes e cidadãos bem informados, que acompanhem e entendam os dados trazidos ao conhecimento público e se posicionem politicamente a partir daí.
Países que se percebem poucos sujeitos à corrupção são democracias estáveis, onde os eleitos respeitam seus eleitores e as regras democráticas, onde a população goza de um alto padrão de vida e tem uma boa educação. Essas são conquistas obtidas ao longo da História, que exigem determinação e uma visão integral da política e da pessoa humana.
Temos muito que caminhar nessa estrada, mas isso não deve ser motivo de desânimo, e sim de compromisso e dedicação.