O Mestre está presente e te chama!

No último domingo, iniciamos o tempo do Advento (do latim adventus, “chegada”, “vinda”), em que a Igreja nos coloca diante da realidade das “três vindas” de Cristo. E são de fato três as visitações de Jesus em nossa história: a primeira, já há dois milênios, quando o Verbo se fez carne no seio imaculado de Maria Santíssima; e a terceira, no fim dos tempos, quando Ele de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os mortos. Entre essas duas, no entanto, há a “segunda vinda” de Cristo: sua presença atual, a cada momento que vivemos: “O tempo da graça é agora. É no instante que passa que Deus nos es- pera com as suas luzes e com o seu auxílio, em reforço da nossa vontade débil. Houve quem qualificasse de ‘sacramento’ o dever do momento presente. E as- sim é, de algum modo: o que agora me cabe fazer, se realmente o faço, como que cristaliza, materializa a graça divina. A pontualidade é o veículo da ação de Deus, ponto de aplicação da força de Deus. (…) Quem se deixa guiar pela vontade próxima e concreta de Deus nas horas do seu dia, nas etapas da sua vida, em livre e delicada atenção ao querer de Deus, (…) poderá, ao término dos seus dias, olhar para trás e ver que a eternidade entrou aos poucos no seu tempo. Em cada momento – e isto não é uma utopia –, a imagem que irradia coincide com a imagem que Deus, desde antes que houvesse tempo, fez dele para esse momento; essa pessoa não é uma alma atrasada e muito menos abortada. Terá chegado para ela o momento de descansar, como um fruto maduro” (A virtude da ordem, Francisco José de Almeida).

Mas será que esta presença atual de Cristo continua real, na era da informação imediata e das redes sociais? A resposta é que sim – mas que ela só será descoberta se nos aplicarmos a um especial esforço de recolhimento, que consiste numa dupla consciência que adquirimos, primeiro de Deus, depois de nós mesmos –, sem violência, mas não sem algum esforço árduo. Para alcançar este hábito, os autores espirituais advertem que “deveríamos evitar ciosamente qualquer ansiedade em receber notícias, em saber o que se passa no grande mundo que nos cerca. Até sentirmos a presença habitual de Deus e podermos reverter tudo facilmente a Ele; é de admirar a prontidão com que os outros assuntos nos prendem e ocupam a atenção; e é justamente isso que não lhes devíamos permitir. Não são poucos aqueles a quem a leitura dos jornais tem afastado da perfeição” (Progresso na vida espiritual, Padre Faber). Estas palavras foram primeiro publicadas no distante ano de 1855 – e imaginemos o que diria hoje seu autor, se soubesse que a leitura dos jornais já foi quase totalmente substituída pelas notícias instantâneas de aplicativos, celulares e redes sociais? Se no século XIX já era perigosa a ansiedade em receber notícias, em saber o que se passa no grande mundo que nos cerca, o que dizer nos dias de hoje?

No último domingo, fomos exortados na missa a “ficar atentos e orar a todo momento” (Lc 21,36) – mas parece que o que mais fazemos é “ficar atentos e olhar o celular a todo momento”! Até nos parece que Nosso Senhor disse aquele Levate capita vestra (Lc 21,28) já imaginando a geração de viciados na te- linha: “Erguei vossas cabeças!” – levantai os olhos do celular, e olhai para as realidades celestes!

Neste Advento, então, peçamos a Jesus que reconheçamos sua vinda: “Senhor, chegou o momento da tua visita: é a plenitude dos tempos; cada segundo da minha vida é o teu tempo, tempo de plenitude, que não pode ser vivido a meias ou então recusado Àquele que me amou e chorou sobre mim como chorou sobre Jerusalém. Senhor, Tu me visitaste e eu fui à minha vida, deixando-te só em minha casa, a ti que me vinhas trazer sentido para os meus dias, alegria de viver. (…) Senhor, que eu te corresponda dizendo faça-se, que me visites encarnando-te nas minhas obras, todas, as de agora, não as de ontem nem as de amanhã, que são pesadelos ou fantasmas. (…) Que eu reconheça cada instante da minha vida como tempo da tua visita. Amém.” (A virtude da ordem, op. cit.)

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