Entramos agora, oficialmente, no tempo do Advento, em que nos preparamos para a chegada do Senhor. Ao nosso redor proliferam as mais variadas decorações natalinas: das tradicionais árvores, com bolas e lampadinhas, até casinhas de duendes. Se repararmos bem, no entanto, perceberemos que existe uma decoração que a cada ano chama mais atenção – não por sua presença, mas por seu paulatino desaparecimento: o presépio, aquele “símbolo admirável” em que representamos com imagens as circunstâncias do nascimento de Jesus (Papa Francisco, carta apostólica Admirabile signum).
Alguém poderia criticar a montagem de presépios, alegando que devemos amar apenas a Jesus, e não imagens Dele, produzidas por mão humana. Ora, é bem verdade que as esculturas de gesso ou resina não são o próprio Menino-Deus a quem representam – mas o mesmo pode ser dito das palavras com as quais, nas Sagradas Escrituras ou em nossas orações, nos referimos a Ele! Afinal, se eu quiser meditar sobre a gruta de Belém, posso fazê-lo por meio de um discurso (escrito, falado ou pensado) ou de um desenho: em qualquer caso, estou usando um símbolo, como quem olha através de uma janela ou de um par de óculos, para enxergar, com os olhos da mente, aquilo que realmente me interessa. E, como diz a sabedoria popular, “uma imagem vale mais que mil palavras”: num belo presépio transparece “com simplicidade, a beleza da nossa fé” (AS, 3).
O céu noturno em que se passa o presépio, por exemplo, nos lembra que, mesmo quando “a noite envolve a nossa vida”, ali está também o Emanuel, o Deus-conosco, manifestando sua luz (cf. Jo 1,5). Os humildes pastores, os primeiros a acorrer singelos à manjedoura, nos recordam de que é na pobreza de espírito que alcançamos a Deus. Até mesmo essas figuras mais modernas que às vezes adicionamos: padeiros, ferreiros, músicos… “Tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha conosco sua vida divina” (AS, 4-6).
Em Maria e José, enfim, vemos um jovem casal que entregou sua vida toda nas mãos do Pai: aceitaram a missão e continuaram confiando na Providência mesmo diante do “fracasso” de não conseguir nem sequer um quarto digno para o nascimento de seu filho. Naquela gruta escura, José e Maria não tinham “garantia” alguma para o bem-estar material de sua família – mas, mesmo assim, os dois passaram o Natal mais cheio de paz, serenidade e júbilo da história.
O principal do presépio, porém, é também aquilo que dá sentido à festa do Natal. O próprio Deus Todo-Poderoso, que cria e sustenta no ser o universo com seus trilhões de galáxias, se fez Homem (se fez Menino!), e “nasceu pobre, levou uma vida simples, para nos ensinar a identificar e a viver do essencial” (AS, 6).
Naquela noite, as hospedarias de Belém estavam com ocupação máxima: devia haver grandes ceias, e banquetes com luzes e danças. Havia lá tudo de bom que a vida pode oferecer – menos a própria Vida (cf. Jo 14,6), pois para Ela “não havia lugar” (Lc 2,7). A manjedoura nos coloca diante dos olhos a verdade fundamental de que nenhum dos confortos deste mundo pode saciar o nosso coração: o dinheiro, a fama, as comidas e bebidas, os prazeres – “não podemos nos deixar iludir (…) por tantas propostas efêmeras de felicidade” (AS, 6).
Animados, então, por este tresloucado amor divino que em sua humildade chega a dar vertigem, montemos nossos presépios, cantando o Adeste Fideles: Sic nos amantem quis non redamaret? – “A quem nos ama de tal forma, quem não amaria de volta?”