Celebramos no domingo, 3 de novembro, a Solenidade de Todos os Santos – e com isso não apenas nos alegramos pela multidão de todos os santos que povoam o Céu, mas também pedimos a Deus que, por sua intercessão e exemplo, também nós aqui na terra nos tornemos todos os santos que Deus espera de nós (cf. Lumen gentium, 39). No entanto, quando olhamos para os santos de nossos altares e quando comparamos sua vida heroica com nossas fraquezas e infidelidades, podemos ficar com a impressão de que a santidade não é para nós. Ainda por cima, alguns livros e filmes sobre os santos traçam um retrato tão idealizado seu, que só falta dizer que eles, ainda bebês, não sujavam as fraldas e praticavam jejum do leite materno às sextas-feiras… Essa é uma visão romantizada da santidade, que pode nos levar a pensar que não fomos feitos para isso – nós que sujávamos nossas fraldas.
No mundo real, no entanto, a verdade é que todos os santos (com a ex- ceção de Nosso Senhor e de sua Mãe Santíssima) tinham seus defeitos! Santa Teresinha, por exemplo, nasceu com um gênio terrivelmente teimoso – sua mãe dizia que ela, quando pequena, “era de uma teimosia quase invencível. Quando diz que ‘não’, não existe força humana que a convença; e ainda que a colocássemos de castigo o dia inteiro em um quarto escuro, ela preferiria ficar ali a dizer que ‘sim’”. Santa Margarida Maria Alacoque, mesmo quando decidiu entregar sua vida a Deus como religiosa, recusava-se a comer queijo – não por alergia ou intolerância, mas simplesmente por capricho. Quando, por desatenção, serviram a ela a mesma comida que às demais freiras, ela passou horas de luta e lágrimas se debatendo com aquilo – e levou nada menos que oito anos para se superar… quanto ao queijo! Santo Agostinho, o mesmo que nos deixou orações tão comoventes e inspiradoras nas suas Confissões, era bastante duro em suas catequeses, a ponto de vários dos que o ouviam não aguentarem e irem embora. Os próprios apóstolos eram cheios de vaidades humanas: João queria proibir que pessoas de fora do círculo dos apóstolos pregassem a Cristo e expulsassem os demônios (cf. Lc 9,49); depois, no caminho, os discípulos brigavam entre si para saber quem era o mais importante; e envolviam até as mães nos conflitos, buscando conseguir, por meio delas, cargos de maior honraria…
Os santos não nascem prontos, não são de resina ou gesso, impecáveis e sem nenhum defeito. Não! Eles são da mesma carne e osso que nós – e o que fez sua santidade foi precisamente o fato de terem lutado a cada dia para se superarem, apoiados não em suas próprias forças, mas na graça e na misericórdia de Deus.
Isso é para nós uma grande lição de esperança, pois a santidade, para nós que vivemos no mundo, não significa fazer uma cara de beato, pegar uma palma e subir em um andor. A nossa santidade será construída ali, em nosso dia a dia ordinário, no fazer supermercado e no limpar a casa, no atender o cliente e no executar nosso trabalho, no encontrar com aquela pessoa importuna no ônibus ou no elevador e ser-lhe amável, no exercício da caridade para com os mais necessitados e no nosso compromisso apostólico vivido na Igreja e em meio ao mundo. Nossa santidade não acontecerá magicamente, do dia para a noite: será resultado de um constante começar e recomeçar, em um processo de luta contínua, com vitórias… e, também, com algumas derrotas. E quando, vez ou outra, “nos sujarmos”, falhando e sendo egoístas, bastará nos arrepender, confessar e retomar o caminho, com simplicidade e esperança. Se é assim, então, demos vela! E, com a graça de Deus, chegaremos ao fim de nossa vida sendo os santos que Ele espera de nós!