‘Perder’ a vida por Cristo

Aproveitando a ocasião da festa litúrgica de São João Maria Vianney, o “Santo Cura d’Ars”, no dia 4 de agosto, a Igreja no Brasil dedica esta primeira semana de agosto a rezar especialmente pelas vocações sacerdotais.

O sacerdócio católico é, de fato, uma vocação (do latim vocatio, chamado): uma missão específica – ao lado do matrimônio ou da vida consagrada, leiga ou religiosa – a que Deus destina alguns de seus filhos. Como nos lembra o Papa Francisco, “mais do que uma escolha nossa, a vocação é resposta a uma chamada gratuita do Senhor” (Carta aos Presbíteros, por ocasião dos 160 anos da morte do Cura d’Ars, 4-VIII-2019).

Embora seja apenas um dentre vários caminhos dispostos por Deus para seu seguimento, o sacerdócio se destaca por uma especial proximidade de Jesus: aquele “já não vos chamo servos (…), mas amigos, pois vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15) não foi proferido às multidões, mas na intimidade da Última Ceia – da qual nem sequer a Virgem Santíssima tomou parte, mas apenas o círculo mais restrito dos apóstolos.

Existe, de fato, alguma verdade naquela piedosa tradição de chamar aos padres “filhos prediletos de Nossa Senhora”: aquela configuração a Cristo que deve caracterizar todo batizado atinge, no caso dos sacerdotes, uma intensidade especialíssima. O padre é um Alter Christus, um Outro Cristo, e, quando celebra os sacramentos, esta identificação sobrenatural se torna plena e literal. É dizer: quando um sacerdote validamente ordenado consagra a hóstia ou absolve os pecados, ele age in persona Christi (“na pessoa de Cristo”), pois, “por causa da consagração sacerdotal que recebeu, goza do poder de agir pela força do próprio Cristo que representa” (“Catecismo”, nº 1.548).

Os sacerdotes católicos perpetuam, ao longo da História, a mais sublime linhagem real de que se tem notícia: regredindo-se pelos séculos na “árvore genealógica” de qualquer deles, atinge- -se inevitavelmente o coro apostólico, e, por fim, o próprio Jesus Cristo.

Por outro lado, sendo o sacerdócio um chamado da parte de Deus, ele pressupõe também a resposta do fiel. Ao Cristo que convida dizendo “quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, mas quem perder sua vida por causa de mim vai encontrá-la” (Mt 16,25), o vocacionado deve ter a coragem de dar livremente seu “Fiat!”.

É compreensível que haja receios e dúvidas: nossa vida é um bem precioso demais, e não devemos devotá-la a uma causa indigna. O jovem deve, assim com todo o coração, empenhar-se em encontrar para sua vida uma causa que verdadeiramente valha a pena, que não seja mera aparência ou ilusão.

Que os jovens não tenham medo, então, de “perder” a vida por Jesus: Ele é a causa (a única!) que vale a pena. É claro que haverá cruzes: trata-se, afinal, de perder a vida. Como dizia aos jovens, no entanto, o então Papa Bento XVI, quando aos 78 anos e de cabelos brancos foi alçado ao papado: “Quem tudo dá a Cristo não perde nada, e ganha tudo”.

Todos os outros bens que possuímos passarão: nossa saúde, dinheiro e popularidade podem se esvair a qualquer momento; nossa família e amigos serão levados pelo tempo; nossa juventude e até nossa inteligência fraquejarão com as décadas. A única coisa que permanece sempre é Deus e o Seu amor.

Creiamos firmemente na promessa de Cristo a seus sacerdotes: “Ninguém que deixe casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos e campos, por causa de mim e do Evangelho, ficará sem receber cem vezes mais, neste tempo agora, com perseguições, e no mundo futuro a vida eterna”, e digamos nós também: “Senhor, nós deixamos tudo e Te seguimos” (Mc 10,28-30).

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