Sagrado Coração de Jesus: um compêndio de nossa fé

Nós católicos temos a bela tradição de dedicar o mês de junho ao Sagrado Coração de Jesus – cuja comemoração litúrgica celebraremos solenemente na próxima sexta-feira, 7. De certa forma, podemos dizer que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus contém em si um resumo do núcleo essencial de nossa fé.

Em primeiro lugar, o coração é um símbolo natural para a ternura e a misericórdia – afinal de contas, chamamos de “sem coração” uma pessoa particularmente inclemente e fria. Ora, mas entre todos aqueles atributos de Deus que aprendemos na catequese (onipotência, onisciência, onipresença…), o mais excelente e mais característico do ser divino é justamente a misericórdia, ou a terna compaixão. Na verdade, a Misericórdia não apenas é plenamente compatível com a Justiça divina, mas ela também a precede e fundamenta: pois antes mesmo que existíssemos para merecer alguma coisa de Deus, Ele nos deu a existência, num ato de misericordiosa generosidade.

Mas além de ser um excelente símbolo para este Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação (cf. 2Cor 1,3-5), o Sagrado Coração também nos recorda o mistério da Encarnação: o fato de que o Filho eterno de Deus entrou para a história humana, dois mil anos atrás, por obra do Espírito Santo, nascendo da Santíssima Virgem como verdadeiro homem, igual a nós em tudo, exceto no pecado. Antes que Cristo habitasse entre nós (cf. Jo 1,14), Deus já era misericórdia, mas não possuía ainda um coração humano, que palpitasse de amor pela humanidade.

E nós sabemos que, na Encarnação, Cristo não assumiu apenas o coração, o músculo cardíaco: antes, Ele tomou para Si tudo aquilo que faz parte de nossa natureza humana, como criada por Deus, e assim pôdenos libertar, por inteiro, das amarras do pecado. As paixões humanas desordenadas, que nos levam muitas vezes a fazer o mal que não queremos; a força de vontade enfraquecida e errante, que vira e mexe não está à altura de perseverar no bem: tudo isso foi assumido e redimido por Cristo, para que também nós possamos exultar no Deus vivo com nosso coração e nossa carne (cf. Sl 84,3).

Em terceiro lugar, além de ser um símbolo geral para a Misericórdia de Deus e para a Encarnação do Filho, o Sagrado Coração é uma constante recordação da Paixão com que Cristo nos salvou: pois os ícones do Sagrado Coração são sempre encimados da Cruz, envoltos pela Coroa de Espinhos, e abertos com a ferida da lança. No Calvário, Cristo entregou-se completamente, até a última gota, pela nossa salvação – e o sinal visível disso veio também de seu coração que, transpassado pela lança, jorrou sangue e água.

Por fim, o Sagrado Coração é também um sinal da vocação sobrenatural que Deus teve em mente ao criar a cada um de nós: a de fazer-nos participantes da vida íntima de Deus e coerdeiros desta felicidade, assumindo este amor divino de autodoação, esta frágua de amor ardente, como nossa própria forma de existência.

É verdade que, se somos sinceros, enxergamos que nosso coração fraco e miserável não tem forças para alçar-se a si próprio a este amor divino. Para ajudar-nos nesse esforço, Jesus não nos deixa desamparados. Ele deixou-nos como modelo uma pessoa humana, que soube amar a Deus com todo seu coração, a cada momento de sua vida: sua Mãe Santíssima, e seu Imaculado Coração – cuja memória litúrgica a Igreja, em sua sabedoria de Mãe, nos convida a celebrar no dia seguinte ao do Sagrado Coração de Jesus.

Peçamos, então, ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria que incendeiem também o nosso coração duro e inconstante, para amarmos de volta a quem tanto nos amou.

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